quinta-feira, 17 de março de 2011

Opinião: O Zé Povinho nos castelos burgueses?

No dia 9 de Março participei num debate sobre política comunal. Entre o ministro do Interior, Jean-Marie Halsdorf (CSV), Claude Meisch (DP), burgomestre de Differdange, Marc Baum (Déi Lénk), conselheiro comunal de Esch/Alzette, Camille Gira (Déi Greng), burgomestre de Beckerich, e Laura Zuccoli, presidente da ASTI, estava eu, jovem mulher estrangeira a debater sobre a representatividade dos conselhos comunais. Será que estão exclusivamente reservados a uma elite de senhores luxemburgueses de uma certa idade e oriundos da classe social privilegiada dos funcionários públicos? Tal foi a pergunta à qual tentamos responder.

As estatísticas (quase) nunca mentem e mostram claramente a falta de mulheres, jovens e estrangeiros na vida política. Os partidos não têm a mesma resposta quanto à solução. Uns querem quotas, outros preferem que sejam os partidos a dar o exemplo. Se os métodos são diferentes, o objectivo é o mesmo: incentivar a participação política das mulheres, dos jovens, dos estrangeiros e dos trabalhadores. Fomos tentando perceber porque é que essas subcategorias continuam à margem da política deste país.

As mulheres são pouco incentivadas a participar, talvez pela difícil conciliação da vida privada e profissional, muitas porque não se sentem capazes quando afinal são elas que acompanham de perto o percurso e a educação dos filhos na escola e que, muitas vezes, são responsáveis pelo orçamento familiar.

Os jovens, que não deixam de ser a geração que mais tem a perder com esta crise, também têm dificuldades em mobilizar-se e unir-se em prol de um futuro mais justo e solidário. Muitas vezes não dispõem dos conhecimentos necessários, até porque a educação cívica só consta nos programas escolares do penúltimo ano de liceu. Demasiado tarde para incutir a importância do processo democrático.

Quanto a nós, não-luxemburgueses que escolhemos este país como residência, não podemos continuar a ignorar que temos uma voz, uma voz que se for unida pode pesar nas decisões políticas. E até 14 de Julho temos a possibilidade de fazer ouvir a nossa voz. Cerca de um mês depois da promulgação do diploma que permite a não-luxemburgueses serem burgomestres e vereadores é importante termos em mente o que significa esta mudança de paradigma que permite a participação política por residência e já não por nacionalidade. Mas nem tudo é um mar de rosas. Nesse debate sublinhei as incoerências do sistema de inscrição nos cadernos eleitorais: o obstáculo burocrático dos documentos a fornecer, a falta de incentivos por parte das comunas (com algumas excepções), as dúvidas de muitos estrangeiros. A inscrição nas listas eleitorais faz-se uma única vez (para as autárquicas e para as europeias), mas infelizmente em algumas comunas assistiu-se a uma série de "esquecimentos" em que pessoas são retiradas das listas e ficam à espera das suas convocações em vão. São estes "desvios" que por quaisquer que sejam as razões nos têm de incentivar a dizer basta!, pois somos cidadãos deste país e não queremos mais pertencer a uma qualquer "subcategoria". Continuarmos minoritários significa também que as políticas não serão dirigidas para nós, mas para aqueles que votam (o voto é obrigatório) ou seja, sobretudo os luxemburgueses. Não nos esqueçamos também que somos cidadãos e que para políticas equilibradas precisamos de uma representação fiel, precisamos de nos identificar com esses conselheiros comunais que tomam decisões directas sobre a maneira como vivemos.

Que falemos ou não luxemburguês, essa é uma falsa questão. O mais importante é que encontremos força e coragem para exprimir o que sentimos, e apoiemos ideias e pessoas que defendam os nossos interesses. Em ano de eleições, em que há um apelo às comunidades estrangeiras para que se exprimam, temos de ser responsáveis, até porque, como diz o "homem da luta" Jel, "é responsabilidade de todos participar na vida democrática".

O debate pode ser visto na íntegra (em luxemburguês) no site www.woxx.lu , jornal que organizou o encontro.

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