quarta-feira, 21 de março de 2012

Juncker: "Amo Portugal, e não me perguntem porquê"


Fotos: M. Dias
A sala do restaurante da capital estava completamente cheia para o almoço com o primeiro-ministro do Luxemburgo. Um encontro sem agenda e que apenas serviu para Jean-Claude Juncker demostrar mais uma vez o afecto que tem por Portugal e pelos portugueses do Luxemburgo.

Oencontro juntou à mesma mesa patrões, governo e sindicato. Uma tripartida à portuguesa com o primeiro-ministro do Luxemburgo. Jean-Claude Juncker apareceu no restaurante sem seguranças ou guarda-costas, apenas acompanhado pelo director do Serviço de Imprensa do Governo e pelo motorista. Do lado português estavam os patrões – cinquenta empresários ligados ao sector da construção civil, à restauração, mas também ao comércio, aos seguros, aos stands de automóveis, às agências de viagens e até a uma escola de condução –, e os sindicalistas da OGBL, Eduardo Dias e Carlos Pereira.

"Agradeço muito o convite", começou por dizer Juncker, para logo depois inflamar a sala com uma declaração de amor.

"Eu sou um amigo de Portugal e amo Portugal, e não me pergunto porquê. Nas histórias de amor, nunca sabemos porque amamos, e a verdade é que muitas vezes, quando descobrimos o porquê, deixamos de amar", declarou o primeiro-ministro do Luxemburgo.

E continuou embalado: "Eu amo os portugueses que estão no Luxemburgo. Dizem-me muitas vezes que há muitos estrangeiros no nosso país, mas eu não creio. Os portugueses são os melhores embaixadores de Portugal no Luxemburgo. Nós sentimo-nos um pouco portugueses e nada do que é português nos é estranho", disse Juncker.

"Os portugueses já provaram que podem vencer no Luxemburgo. Temos aqui um dilema difícil de resolver. Eu sinto-me português, vocês sentem-se luxemburgueses: o melhor é bebermos à nossa saúde", concluiu Juncker.

"Ah! E já agora, se quiserem saber o que vamos comer, leiam o Point 24, que traz a ementa", gracejou o primeiro-ministro, que tinha a edição portuguesa do jornal na mão.

PEDIDO COLECTIVO DE NACIONALIDADE LUXEMBURGUESA

Do lado português, as honras da casa foram feitas por Eduardo Dias. O conselheiro das Comunidades Portuguesas apresentou a Jean-Claude Juncker a assistência: "Os empresários aqui presentes dão trabalho a mais de duas mil pessoas (...) e gostariam de continuar estes contactos, sem nuances políticas, mas para criar laços naturais e também rir".

O sindicalista da OGBL sabia o que tinha preparado. Começou por sugerir "um comboio para levar os indianos da Arcelor Mittal", depois referiu-se ao "amigo Sarkozy que tem por hábito atacar [Jean -Claude Juncker] e que agora quer fechar de novo as fronteiras". Mas a gargalhada geral estava guardada para a altura em que Eduardo Dias lançou um repto ao primeiro-ministro. "Sei que não tem resposta imediata ao repto que lhe vou fazer, mas o meu amigo David propõe que lhe peçamos a nacionalidade luxemburguesa a título colectivo. Nós gostamos muito de Portugal, mas estamos fartos. Queremos ser luxemburgueses, mesmo sem a língua". O primeiro-ministro ouviu e sorriu.

O sindicalista da OGBL lembrou ainda que dez mil reformados portugueses, e também alguns luxemburgueses, vivem e recebem as suas pensões em Portugal. Todos os meses a Caixa Nacional de Pensões do Luxemburgo deposita "mais de 10 milhões de euros" nos bancos portugueses, e por isso desafiou o governo do Luxemburgo a investir em Portugal em casas de repouso e em lares da terceira idade.

Eduardo Dias lembrou ainda a famosa história da renda das instalações do Instituto Camões, na cidade do Luxemburgo. O sindicalista recordou a vez em que o então ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Sócrates quis fechar o Instituto Camões por causa da contenção de despesas. "Nós pagamos e por isso podemos fechar", terá dito Freitas do Amaral. Mas o ministro estava mal informado. O conselheiro das Comunidades Portuguesas disse então a Freitas do Amaral que a renda das instalações do Instituto Camões era paga pelo Governo do Luxemburgo.

A história da renda do Camões remonta ao governo de António Guterres. O primeiro-ministro socialista desabafou que gostaria de ter alguma "coisa cultural" no Luxemburgo, mas que não tinha dinheiro. Jean-Claude Juncker ouviu o desabafo e disse: "Não te preocupes que nós vamos arranjar o sítio e pagamos-te a renda". Ainda hoje o governo do Luxemburgo é quem paga as instalações do instituto português no Boulevard Royal.

No final do almoço, o primeiro-ministro do Luxemburgo reafirmou a paixão que tem por Portugal, fez juras de fidelidade aos portugueses que vivem no Luxemburgo e prometeu que "uma vez por ano, na Primavera, vamos repetir esta experiência". A promessa está feita. Para o ano há mais.

Texto: Domingos Martins

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