sábado, 17 de março de 2012

Luxemburgo: Cinco magníficos arrebatam Festival Portugal Pop

A terceira edição do Festival Portugal Pop esteve à altura dos artistas convidados. A noite na Kulturfabrik prometia aquecer e foi o que aconteceu. Os cinco artistas foram recebidos em apoteose e a música pop mostrou que tem o seu lugar cativo na comunidade portuguesa.

 Miguel Ângelo, Adelaide Ferreira, Tozé Santos, Zé Manel e Luke D’Eça trouxeram até ao Luxemburgo um Portugal moderno e virado para a música pop, para gáudio das 500 pessoas que encheram a Kulturfabrik.

O ex-líder dos Delfins era o artista mais aguardado do Festival Portugal Pop e, quando subiu ao palco, o carisma era o mesmo de sempre. A sala vibrou quando Miguel Ângelo, acompanhado pela banda residente IN/OUT, transportou o público para a fase áurea da carreira dos Delfins, em 1997, altura em que actuaram no Luxemburgo. "Eu vinha um bocado curioso. Nós estivemos aqui no pico de carreira dos Delfins e foi uma loucura, com o pavilhão a abarrotar. Foi um êxito muito grande e passados tantos anos, a pessoa pensa ‘será que se lembram das minhas canções?’. Então, preparei cinco daqueles temas clássicos da banda." Os temas escolhidos foram "Um lugar ao sol", "Aquele Inverno", "Ao passar um navio", "Sou como um rio" e "Nasce Selvagem".

Miguel Ângelo retoma a carreira a solo este ano. Depois de "Timidez" (1999), o novo trabalho a solo vai sair em Outubro deste ano. Sem revelar o nome do álbum, o músico de Cascais adiantou apenas que são canções "à guitarra" e que o novo single "Precioso" vai estar disponível a partir de 3 de Abril, dia em que faz anos. "São canções como gosto de fazer: à guitarra. Canções que podem ser tocadas na praia e que existam independentemente do arranjo musical", garante.

Sobre um possível regresso dos Delfins, Miguel Ângelo descarta o cenário, a não ser para "um espectáculo numa noite". “Os Delfins decidiram acabar no seu quarto de século, com 25 anos de carreira. Agora, sobre um regresso, o nosso caso é diferente de muitos casos de bandas que depois se reúnem. Os Delfins estiveram 25 anos juntos e não sete ou 10 anos. Não duvido é que daqui a 10, 15 ou 20 anos a malta se junte para fazer um espectáculo numa noite, mas como carreira, o grupo está encerrado e agora é altura de prosseguirmos com rumos pessoais", diz.

Para já, o cantor não descarta um possível regresso ao Luxemburgo. "Depois de tantos anos, foi excelente voltar ao Luxemburgo e fiquei emocionado com a recepção. Se me convidarem quero voltar."

Quem também "dava tudo" para voltar ao Luxemburgo é Adelaide Ferreira, neste que foi o seu primeiro concerto em terras grã-ducais com "alma portuguesa". "Eu senti a alma portuguesa. Senti uma plateia que está dentro de Portugal e não fora. A música tem essa particularidade de unir as pessoas que se identificam com algo em comum. Senti no meio deste público parte da estrelinha que eu sou. Daria tudo para voltar."

Com a mesma voz de há vinte anos, Adelaide Ferreira cantou e fez o público cantar temas como "Papel principal", "Eu dava tudo para te ter aqui" e "Trânsito". Foram também apresentados dois dos seus mais recentes singles: "Adeus" e "Esqueço-Me de Te Esquecer, do álbum homónimo lançado em Novembro de 2011. Depois de um jejum de cinco anos, "Esqueço-Me de Te Esquecer", é tido como um álbum mais maduro.

Adelaide Ferreira admite, no entanto, que este não é ainda o seu "grande álbum". "'Esqueço-Me de Te Esquecer' é uma incursão pelos blues , um caminhar para as minhas origens, para aquilo que deveria ter feito desde sempre. Não sei se é a minha praia, mas é onde sinto-me bem. No entanto, apesar de me sentir mais madura, ainda não posso dizer que é o grande álbum da minha vida. Sou muito fã dos Pink Floyd. Roger Waters contava muitas histórias nas músicas. Eu adorava também fazer um disco conceptual, mais cinematográfico", diz a única presença feminina do festival.  

ORGANIZAÇÃO ESTÁ ATENTA À NOVA GERAÇÃO POP PORTUGUESA

A organização do Festival Portugal Pop está atenta ao que se faz em Portugal e sabe que o país não vive só do passado, do fado ou da música tradicional. A música pop portuguesa tem artistas de diversas faixas etárias e a nova geração também não foi esquecida este ano. Tozé Santos, Zé Manel e Luke D'Eça não quiseram ficar atrás e arrastaram o público mais jovem até ao final da noite, para os autógrafos.

Zé Manel, do projecto Darko, cantou "Define Joy", o seu primeiro single a solo, oito anos depois de deixar os Fingertips. Para muitos, foi um dos melhores momentos do festival, um jovem com muito para dar ainda à música portuguesa.

"Comecei com os Fingertips aos 13 anos e lançamos o primeiro álbum quando tinha 14 anos. Tenho muito orgulho nos profissionais com quem trabalhei, mas chega uma altura em que queremos mais. Achei que era a hora de me apresentar ao público de uma forma mais autêntica e mais honesta. Claro que é um risco abandonar uma banda para depois recomeçar, mas só tenho 23 anos e este disco do Darko diz muito de mim e estou muito feliz", confessou Zé Manel, que se diz amigo da internet e disponível para responder aos fãs através do Facebook ou outros espaços virtuais.

Outra estreia no Luxemburgo foi o rosto e a voz da nova geração do rock-pop português, Luke D'Eça, que apresentou algumas músicas do seu novo trabalho a solo, "Something You Cultivate". "Foi a primeira vez no Luxemburgo, a primeira vez a tocar com esta banda, a primeira vez a tocar músicas do meu novo álbum e a primeira vez que estou em concerto este ano. No meio de tantos portugueses senti-me em casa. Foi fantástico", disse Luke.

O "repetente" Tozé Santos, além "apresentador de serviço", aproveitou para antecipar o próximo concerto de Paulo Gonzo ao cantar "Jardins Proibidos", o esperado "Intervalo" e mais dois temas.

No final do concerto, o público pediu mais e Miguel Ângelo regressou ao palco para cantar "A noite" (dos Sitiados), e num improvisado ensemble com os restantes artistas ouviu-se também "Respect" de Aretha Franklin, e "Paixão", de Rui Veloso.

O balanço final coube a Pedro Bray, da organização, para quem o festival está a crescer e quer ganhar mais nome. "O festival está a crescer cada vez mais e é isso que queremos. Este projecto é com o melhor que se faz em Portugal e já estamos a marcar presença pela qualidade e pelo preço acessível, disse Bray ao CONTACTO.

O Festival Portugal Pop apresenta-se como um festival vanguardista, único entre as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Nota final para Pedro Bray, enquanto guitarrista, que esteve em grande destaque com a sua banda. Os IN/OUT acompanharam todas as músicas dos cinco artistas com uma notável performance, reconhecida em palco pelos cinco magníficos.

Texto: Henrique de Burgo

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