sexta-feira, 4 de maio de 2012

UE prepara-se para Hollande mas ele não tem “varinha mágica” para resolver problemas, diz académico francês

O investigador do Instituto de Estudos Políticos de Paris Bruno Cautrès considera que os líderes europeus estão “a preparar-se” para a possível eleição presidencial de François Hollande, mas adverte que o socialista “não tem uma varinha mágica”.

François Hollande disputa no domingo a segunda volta da eleição para o Eliseu com Nicolas Sarkozy, recandidato à presidência da República.

As sondagens apontam-no como vencedor. O socialista tem feito da Europa – e da mudança que promete operar na União, para atacar a crise – uma bandeira de campanha: Hollande quer renegociar o Pacto Orçamental Europeu para que ele “integre medidas de apoio ao crescimento dos países, para além da austeridade”.

No debate que o opôs, na quarta-feira à noite, a Nicolas Sarkozy, Hollande afirmou que já sente a Europa “a mexer” em relação a este tema e considerou que uma das questões da eleição de domingo será perceber se o Presidente eleito terá a “capacidade de fazer a Alemanha ceder”.

Bruno Cautrès, especialista em assuntos europeus, disse à agência Lusa que, “efectivamente, a Europa começa a preparar-se para a possível eleição de Hollande”. É por isso, explicou, “que a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, começam a falar de crescimento. Estão a preparar uma posição intermédia para evitar conflitos e permitir que todos fiquem bem no retrato”. No entanto, o académico destaca – como Sarkozy no debate – que esta ideia de crescimento não é “absolutamente inovadora”.

O Pacto Orçamental Europeu “refere já o estímulo ao crescimento da economia”. “Portanto, um ‘efeito Hollande’ nas posições dos líderes europeus, se existe, é um efeito indirecto. É mais a busca de um compromisso pragmático do que uma conversão às suas propostas”, acrescentou. Bruno Cautrès afirmou ainda que não coloca em causa as “boas intenções” de nenhum dos dois candidatos, mas argumenta que “o Presidente francês eleito não terá uma varinha mágica para resolver problemas que são de toda a União e que são complexos”.

 O investigador lembrou que, quem quer que chegue ao Eliseu, não terá só que lidar com os problemas da Europa: “A França tem uma dívida elevadíssima. Os mercados vão exercer uma pressão forte para mostrar que os problemas do país são sérios, seja quem for o eleito”, disse. Olhando para as propostas de Sarkozy, Cautrès considera que ele fez, durante a campanha, uma “inflexão” no comunitarismo do seu mandato, para falar aos eleitores da extrema-direita, levantando a questão das fronteiras”, e ameaçando suspender unilateralmente as fronteiras se os acordos de Schengen não fossem revistos.

“Como Hollande, Sarkozy olhou para a insegurança que todos os europeus estão a sentir em relação ao modelo da União. E, como o socialista, o Presidente recandidato tentou mostrar que o novo Presidente francês terá capacidade de impor coisas. Mas não é bem assim, seja qual foi o resultado da eleição”, terminou.

A campanha para a segunda volta das presidenciais em França termina às 00h00 (zero horas) de sábado.

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