sábado, 2 de junho de 2012

Boa Vista: Praias de areia dourada e mar azul turquesa

Os passeios de moto 4 nas dunas da praia de Chaves são uma atracção na ilha da Boa Vista Fotos: DM
Leonard Ripa trocou a chuvosa cidade de Milão pelo mar, o vento e o silêncio da Ilha da Boa Vista, em Cabo Verde. Este filho de pai italiano e mãe francesa confessa que estava "farto da vida que levava em Milão", e em 2003 desembarcou em Sal Rei, a vila piscatória onde vive a maior parte dos habitantes da Boa Vista.

Leonard: um milanês que se apaixonou por Cabo Verde

"Eu vivia num sítio com muita chuva, triste, e sem este mar por perto", conta Leonard. "Aqui temos sol e praia todo o ano e a chuva é rara".

Leonard é o proprietário de uma empresa de aluguer de motos-quatro que conta com 54 veículos de quatro rodas para fazer passeios pelas praias e dunas da Boa Vista. "Chego a alugar cerca de 40 motas por dia. Em 2007 é que o negócio começou a crescer, e hoje dou emprego a 12 pessoas", explica Leonard num português com uma pronúncia que denuncia a origem estrangeira deste empresário.

Queimado pelo sol e com o corpo pintado de tatuagens, Leonard Ripa encontrou na Boa Vista aquilo que milhares de turistas procuram num breve período de férias: sol, mar e "no stress".

As praias da ilha são uma planície de areia a perder de vista, com um mar cálido e azul turquesa que convida imediatamente ao mergulho. Os passeios de mota de Leonard, que podem chegar a levar três horas, encarregam-se de conduzir os turistas pela praia de Chaves e pela praia de Santa Mónica, os ex-libris da Ilha. O vento que sopra desde o deserto do Saara, no Norte de África, desenha magnificas dunas nas praias da Boa Vista, daquelas que fazem as delícias das crianças, e também de alguns adultos, que se enrolam na areia quente.

Das 10 ilhas que compõem o arquipélago de Cabo Verde, a Boa Vista é a terceira maior, uma das menos
A pesca ainda dá trabalho à população em Cabo Verde
populosas, mas também a mais próxima da costa africana, a apenas 455 quilómetros de distância. A influência do continente sente-se no clima seco e no vento.

Até há poucos anos, a ilha tinha apenas uma estrada alcatroada que ligava o aeroporto, em Rabil, a Sal Rei. Agora há uma outra que não se sabe quando estará concluída para ligar o aeroporto à praia do Lacacão, onde se situa o mais recente resort do grupo hoteleiro Riu.

O resto dos acessos são vias em empedrado, do tempo da colonização portuguesa, e caminhos em terra batida. Por isso, a melhor forma de visitar a ilha é em veículos todo-o-terreno.

À porta dos hotéis, juntam-se logo pela manhã as carrinhas "pick-up" que hão-de levar os turistas a passear pela ilha. Destinos obrigatórios: o Deserto de Viana, um antigo vale fértil tapado por dunas de areia branca trazidas pelo vento que sopra do Saara, e a praia do Cabo de Santa Maria, que acolhe os restos mortais do navio espanhol "Costa da Boa Esperança". O navio carregado de máquinas agrícolas a caminho do Brasil encalhou nas areias da praia em 1968. Um cenário de pura ficção cientifica. Em torno da ilha existem mais de 100 navios naufragados.

À chegada, os turistas são avisados que aquele é um lugar de desova de tartarugas, e caminhando pelas dunas consegue-se encontrar os restos dos ninhos do ano passado. Para o local, actualmente zona protegida, está projectada a construção de um futuro centro de investigação sobre tartarugas, financiado pelos hotéis Riu.

"BOOM TURÍSTICO"

 
Na Boa Vista, as pick-ups fazem
passeios turísticos pela ilha

O turismo chegou à Boa Vista com a inauguração do aeroporto internacional em Outubro de 2007. Desde então, o tráfico de passageiros não tem parado de aumentar. Neste momento, o aeroporto baptizado com o nome do primeiro presidente de Cabo Verde, Aristides Pereira, ocupa o segundo lugar em número de passageiros, logo depois do Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na ilha do Sal.

No último Inverno, a época alta do turismo na ilha, a Boa Vista recebeu, em média, 32 voos charters por semana maioritariamente de Inglaterra, Portugal, Espanha, França e Alemanha. De Novembro a Abril deste ano, só a Luxair, a companhia aérea luxemburguesa, com dois voos por semana, transportou para Cabo Verde cerca de nove mil passageiros.

A vida em Sal Rei não fica à margem dos números do Turismo. À entrada da cidade, a construção
Os restos do navio espanhol "Costa da Boa Esperança",
que naufragou na ilha da Boa Vista, em 1968
clandestina mancha a simplicidade, a pacatez e a beleza da vila piscatória. Por causa do boom turístico, a Boa Vista começa a ser muito procurada pelos habitantes das outras ilhas, mas também por imigrantes senegaleses. Água não há, saneamento básico tão pouco, e as casas que parece que nunca vão ser acabadas acolhem, em muitos casos, as três gerações de uma mesma família. Afinal estamos em África.

A presença portuguesa em Sal Rei está espalhada por toda a vila. A mais emblemática é o forte Duque de Bragança, hoje em ruínas, que foi construído no ilhéu de Sal-Rei pelos portugueses para proteger a vila dos ataques dos piratas.

Na costa sul da ilha estão as melhores praias da Boa Vista: Santa Mónica, Lacacão e Varandinha.

Santa Mónica, que já foi conhecida como o Porto Português, tem um areal de 18 quilómetros de extensão, e é uma das maiores praias de todo o arquipélago de Cabo Verde. Foi aqui que os portugueses desembarcaram na ilha.

Depois, caminhando para oeste, está a praia do Lacacão onde, em 2011, se instalou o "Riu Touareg", um enorme empreendimento turístico com 881 quartos e que faz as delícias dos clientes com as constantes actividades de animação e com o seu serviço "all inclusive".

As tartarugas procuram as praias da Boa Vista para a desova
Ainda mais a oeste, com quilómetros de areal intocável, a praia da Varandinha, famosa pelas boas condições para a prática de desportos náuticos, como surf ou windsurf.

Trinta e três anos depois da independência, Cabo Verde passou a fazer parte da lista de países de Desenvolvimento Médio. Uma distinção que faz jus ao enorme esforço de desenvolvimento feito pelos sucessivos governos do país, que em 1975 poucos acreditavam ser viável.
Texto: Domingos Martins (O jornalista viajou a convite da Luxair e dos hotéis Riu)


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