sexta-feira, 22 de junho de 2012

Luxemburgo: Ultrapassagem na auto-estrada acaba com insultos xenófobos

Mafalda Pereira está no Luxemburgo há 26 anos. Chegou com os pais, ainda pequena, fez aqui a escolaridade obrigatória, concluiu a universidade em Portugal, e agora é funcionária no Tribunal de Justiça da UE. Na quarta-feira, ao fim da tarde, foi insultada e
vítima de um ataque xenófobo. Tudo por causa de uma ultrapassagem. Tudo aconteceu por volta das sete da tarde. Mafalda circulava na auto-estrada que liga o Luxemburgo à Bélgica. Na saída para Mamer, a fila de carros para entrar na estrada nacional era, como sempre, grande, e Mafalda teve de esperar pela sua vez. De repente, vê pelo retrovisor que se aproxima um jipe cujo condutor "não tinha boa cara". Na fila, de repente, o jipe bate na traseira do veículo de Mafalda e põe-se em fuga.

Por instinto, a funcionário do Tribunal da UE inicia uma perseguição ao jipe, até que perto do cemitério de Kellen, o condutor luxemburguês pára. Mafalda sai do carro e observa a traseira do seu veículo. Foi nessa altura que começaram os insultos. "Ele perguntou-me se havia algum problema com o carro. Eu respondi-lhe que não, mas perguntei-lhe se ele tinha consciência do que tinha feito. O senhor começou a falar luxemburguês e eu pedi-lhe para falar francês, uma vez que eu não domino a língua. Nessa altura começou a dizer que eu era apenas uma 'portuguesita' que devia "voltar para Portugal". Mafalda percebeu então a razão da fúria do condutor: uma ultrapassagem na auto-estrada: "Vocês, os portugueses, pensam que quando têm grandes carros são os reis na estrada (...), mas vocês não sabem sequer contar até três, são uns ignorantes. Vão mas é para Portugal. Aqui não é o vosso país".

Mafalda Pereira chamou-lhe racista, tirou a foto do jipe que está nesta página, e meteu-se no carro para ir para casa. Quando chega à porta da casa dos pais, o jipe está do outro lado da estrada. "Eu fiquei muito nervosa, sem saber o que fazer, porque o senhor saiu do carro e disse-me que 'eu é que era o problema'. Resolvi apresentar queixa na polícia. Estou muito revoltada com a maneira de proceder deste homem, na casa dos 50 anos, aparentemente normal. Como é que é possível este tipo de reacções e insultos? O homem tinha uma expressão de raiva muito grande, e sempre em luxemburguês, arrasou os portugueses. Ainda agora estou nervosa, e só penso no que poderia ter sucedido. A verdade é que o meu cérebro deixou de funcionar, de tal maneira fiquei enervada com o que aconteceu à saída da auto-estrada", conta Mafalda ao Point24 .

Na esquadra da polícia, o agente de serviço "foi muito atencioso e contribuiu para que eu me acalmasse. Explicou-me as consequências que este tipo de queixa me pode acarretar, mas ainda assim resolvi apresentar queixa. É este o Luxemburgo do século XXI?".

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