sexta-feira, 6 de julho de 2012

EDITORIAL: O que nos falta para sermos campeões

Terminado o Campeonato da Europa de Futebol que Polónia e Ucrânia acolheram o melhor que puderam, e que teve na Espanha um brilhante (e esperado) vencedor, é hora de fazer um balanço à participação da equipa de todos nós na prova e de colocarmos algumas questões sobre o seu futuro.

A prestação da nossa selecção superou as expectativas de muita gente e, regra geral, pode dizer-se que Portugal saiu de cabeça erguida deste Euro2012. Mas também existem algumas opiniões contrárias, e que a meu ver não são completamente despropositadas.

Para avaliar a campanha de Portugal, temos de começar pelos jogos de preparação, contra a Macedónia e Turquia. Com um empate e uma derrota deprimentes, a confiança dos portugueses era baixíssima e para muitos a nossa sina estava traçada: nem da fase de grupos passaríamos. Os jogadores não queriam jogar, a equipa era fraca, o treinador idem, Ronaldo estava a jogar contrariado e estávamos condenados no ''grupo da morte''. Iríamos até perder com a Dinamarca…

Mas a verdade é que chegámos às meias-finais e fomos apenas eliminados nas grandes penalidades contra a campeã da Europa e do Mundo. O percurso de Portugal neste Euro2012 não foi extraordinário, mas foi muito bom.

O primeiro jogo, contra a Alemanha, custou-nos uma derrota, pese embora nem tudo fosse negativo para a equipa das quinas. Muitos aproveitaram o deslize para "enterrar” a selecção, mas outros avaliaram não apenas o resultado, mas também a exibição (acertadamente), perspectivando que a jogar assim poderíamos chegar mais longe. E chegámos. Bastaram duas vitórias – contra a Dinamarca e a Holanda –  e duas exibições bem conseguidas para que passássemos num ápice de bestas a bestiais. Agora éramos invencíveis e ninguém nos parava. Afinal, tínhamos o melhor jogador do mundo! Afinal, até tínhamos um treinador de luxo e uma equipa invejável. Enfim, tínhamos tudo para sermos campeões da Europa. No fundo, como na maioria das vezes, mudámos de opinião como quem muda de camisa… o que tem os seus inconvenientes.

Depois do esporádico terceiro lugar obtido no Mundial de Inglaterra, em 1966, e das participações isoladas no Europeu de França, em 1984, e no Mundial do México, em 1986, só a partir dos anos 90, com o amadurecimento da "geração de ouro", é que Portugal tem marcado presença assídua em Mundiais e Europeus com resultados que têm colocado a equipa entre a nata do futebol mundial.

No entanto, pergunto-me se isso é suficiente para alimentarmos a ideia de que um dia vamos ganhar alguma dessas competições.

Temos uma boa equipa com um núcleo de qualidade, onde Cristiano Ronaldo é a estrela mais cintilante, rodeada de outras que brilham também, embora com menor intensidade, como são os casos de Nani, Pepe, Coentrão, Meireles ou Moutinho. No entanto, e apesar deste naipe de "virtuosos”, a verdade é que continua a faltar-nos um matador, um goleador, um jogador que materialize em golos a produção ofensiva da equipa. Desde que Eusébio abandonou os relvados – apesar de não ter sido um ponta-de-lança genuíno –, nunca mais Portugal teve um jogador de tal calibre, embora e segundo as estatísticas, Pauleta tenha ultrapassado o "king" no número de golos marcados com a camisola das "quinas” ao peito.

 A verdade é que até hoje a nossa sina tem sido a de "nadar, nadar e morrer na praia”. Talvez nos possamos inspirar no exemplo da Espanha, que padeceu do mesmo mal durante quarenta anos consecutivos, durante os quais nada ganhou, mas agora é a maior potência futebolística mundial, mesmo que jogue, por vezes, sem pontas-de-lança de raiz. "Nuestros hermanos" elaboraram um modelo de jogo de A a Z em todos os escalões etários das selecções, insistiram com determinação nas suas ideias contra ventos e marés e hoje é o que se vê.

 Nelson Oliveira, que ainda não passa de uma promessa, poderá num futuro não muito longínquo assumir um papel determinante na frente do ataque da selecção, mas não é uma certeza. Falta-nos também coragem para ousar acreditar verdadeiramente, e com convicção, que um dia vamos mesmo ganhar qualquer coisa, ultrapassando a "malapata" de ficar pelo caminho por uma qualquer razão. A educação da vontade é regida pela influência do sentimento, da imaginação e do temperamento. É no treino destas vertentes, fundamentais na superação individual e colectiva, que também temos de apostar, deixando os "egos” de lado (exemplo negativo que a selecção da Holanda deixou patente neste Euro), e lutando pela vitória como uma verdadeira equipa, porque talento não nos falta. Conseguiremos um dia inscrever o nome da nossa selecção na galeria dos vencedores? O tempo o dirá. 
                                                                                                                                                Álvaro Cruz

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