Maria Isabel de Bragança era o seu nome. Nasceu em Queluz em 1797, filha do rei João V e de Carlota Joaquina, com eles esteve no Brasil e, quando voltou, casou-se com um tio, irmão da mãe e rei de Espanha, Fernando VII.
Rezam as crónicas que amava as artes e que por assim ser pressionou e convenceu o rei, seu tio e marido, a mandar erguer em Madrid um museu real consagrado às Belas Artes.
Não chegou a vê-lo concluído. Morreu aos 21 anos, de parto.
Lima de Carvalho era até há pouco - confessou-o à Lusa - um dos que, deste lado da fronteira, desconheciam ser portuguesa e de sangue real a fundadora do Museu do Prado. No seu caso, a revelação veio através de um neto que, um dia, há dois anos, lhe trouxe o catálogo de uma exposição realizada em Madrid com retratos do Museu do Prado.
"A nossa vida é feita de coisas muito simples", filosofa. E foi muito simples a forma como ficou a saber que Maria Isabel de Bragança tinha sido a fundadora do Museu do Prado: bastou-lhe abrir o catálogo trazido pelo neto e ver, na página 88, o retrato da princesa portuguesa, rainha em Espanha.
O título do retrato, pintado 11 anos depois da morte da princesa por Bernardo López Piquer, anunciava: "La reina Maria Isabel de Braganza como fundadora del Museo del Prado".
Tão singular lhe pareceu a revelação que decidiu fazer um teste. "Comecei então - contou - a perguntar a pessoas importantes, desde embaixadores a ex-presidentes da República, a pessoas cultas, a artistas, se sabiam que ela tinha sido a fundadora do Museu do Prado. A grande maioria não sabia".
Tudo isto somado à juventude da princesa, ao confesso amor desta às artes e ao facto de o Salão da Primavera se destinar a jovens - finalistas e recém-licenciados em Belas Artes - o decidiu: iria prestar-lhe uma homenagem. E em várias frentes, se possível.
Começou pelo que conhece melhor, o seu meio de acção, a galeria de Arte. Reuniu os apoios necessários e aumentou - para cinco mil euros - o valor do Prémio (de Aquisição) que anualmente o Salão da Primavera atribui. O vencedor, este ano, XXII edição, foi Gil Maia, com "Caja Real".
A seguir, enviou a "todas as câmaras municipais que têm mulheres como presidentes" e às câmaras cujos presidentes são seus amigos - no total, 50 - cartas com uma desafiante sugestão: que fossem pensando em fazer entrar na toponímia local o nome da princesa e rainha.
As cartas foram enviadas há apenas 15 dias, vai ter de esperar mais tempo. Mas já lhe chegaram às mãos quatro respostas positivas. As duas primeiras, de Guimarães e de Vila Franca de Xira.
A terceira parte da homenagem está ainda em fase muito embrionária. A sua ideia é fazer chegar o rosto e o nome da princesa ao selo e, nesse sentido, desenvolveu já uma primeira série de diligências.
A última, mas não a menos importante das ideias de Lima de Carvalho, passa por uma espécie de «mobilização» das agências de viagens e de instituições como o INATEL, através das quais todos os anos milhares de portugueses vão a Espanha. Por que não «desviar» toda ou parte dessa massa de visitantes para uma visita ao Prado, ao museu que uma princesa portuguesa amante das artes quis que fosse construído?
Lusa
Imagem: Wikipédia
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