sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Eleições Legislativas '09 também se jogam no Luxemburgo : os três candidatos do Grão-Ducado

Portugal vai a votos no domingo, uma eleição que também passa pelo voto dos emigrantes portugueses espalhados pelo mundo, e claro está, no Luxemburgo. Os emigrantes portugueses elegem quatro deputados: dois pelo círculo da Europa e os outros dois fora da Europa. No Luxemburgo, pela primeira vez, três portugueses integram as listas dos candidatos a deputados à Assembleia da República: Manuel Bento, candidato independente pelo Bloco de Esquerda (BE), Manuel Gomes da Silva, da CDU, e Ana Maria Albuquerque, do PSD. O CONTACTO traça o perfil dos três candidatos. Tradicionalmente, só o PSD e o PS conseguem o número de votos suficientes para a eleição.
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Candidata do PSD
Ana Maria Albuquerque quer ser a voz dos emigrantes portugueses em Lisboa

Há 15 anos no Luxemburgo, Ana Maria Albuquerque é candidata a deputada pelo círculo da Europa nas listas do PSD.


A política é uma paixão antiga. Lucas Pires e Cavaco Silva são as suas referências. Aos 43 anos, a vida desta locutora de Rádio corre o risco de dar uma volta de 160 graus.

"Nestes últimos quatro anos não houve política de emigração do governo PS. Portugal não merece os emigrantes que tem, porque a verdade é que nós trazemos sempre a camisola do país vestida, mas somos sempre esquecidos". A afirmação é de Ana Maria Albuquerque, 43 anos, três filhos (vive em união de facto com o pai do filho mais novo), locutora da Rádio Latina no Luxemburgo e candidata à Assembleia da República pelo círculo da Europa nas listas do PSD. Ana Maria mostra logo ao que vai. No início da conversa com o CONTACTO, a candidata não perde tempo e começa a desfiar o rosário das queixas contra o actual governo. "Acha bem? Agora em campanha o PS diz que eles procederam à modernização consular, quando o que andaram a fazer foi a fechar consulados? Ainda na semana passada estive em Roterdão e os portugueses que ali vivem se queixaram. Agora têm de ir a Haia. E mesmo aqui no Luxemburgo: o consulado está a funcionar a meio gás com menos cinco funcionários. Até a Cônsul partiu e agora, por enquanto, ainda não temos quem a substitua", refere a candidata ao CONTACTO.

Regressando aos primeiros tempos de actividade política, Ana Maria entusiasma-se quando fala dos tempos da JSD na Amadora, das campanhas feitas com a jota, da sua admiração por Lucas Pires e Cavaco Silva.

"Eu despertei para a política por volta dos 14 anos, no ano em que Sá Carneiro morreu no acidente de Camarate. Desde essa altura que tenho dentro de mim o bicho da política, mas só aos dezoito ou dezanove anos é que me filiei na JSD. Foi nessa altura que me cruzei com o Pedro Passos Coelho, já nessa altura era muito activo. Ele também militava na jota da Amadora. A verdade é que o ambiente era muito giro e eu devo confessar que me atraía sobretudo o convívio. Foi nessa altura que me envolvi na campanha para as presidências de 86 entre Mário Soares e Freitas do Amaral. O PSD e a jota apoiavam o professor Freitas do Amaral e eu andei quinze dias a percorrer o país. Já antes tinha participado na campanha de Cavaco Silva: eu até chorei quando ele entrou na Alameda, onde eu nasci, para comemorar a vitória", recorda Ana Maria Albuquerque.

"Curiosamente, a primeira vez que votei, foi no CDS, com o Lucas Pires. Eu achava-o brilhante e decidi votar nele. Quando ele foi candidato ao Parlamento Europeu, pelo PSD, eu também votei nele e desde então nunca mais deixei o PSD".

Para além de ter pertencido à jota e de ter feito campanhas, Ana Maria Albuquerque confessa que lhe falta a experiência do combate político. Nada que a assuste. "Ainda estou a tempo de aprender", diz, e quando se lhe pergunta se se está a imaginar a intervir num debate parlamentar na Assembleia da República, a candidata é peremptória: "Claro que sim, mas vou ter que estudar muito bem a lição..." (risos).

DE EMPREGADA DA LIMPEZA A CANDIDATA A DEPUTADA

O convite para integrar as listas do PSD pela emigração chegou em Junho deste ano, mas as confirmação oficial só apareceu quando o Conselho Nacional do partido aprovou as listas. A sua amizade com o cabeça de lista, Carlos Gonçalves, facilitou o processo, e o facto de ser uma figura conhecida no Luxemburgo fez o resto.

"É evidente que não posso negar que o facto de ser animadora na Radio Latina, e de ser conhecida do grande público, não ajudou à escolha. Mas só isso não bastava. Quando cheguei ao Luxemburgo inscrevi-me no PSD local e cheguei a presidente da mesa da Assembleia Geral. Ainda participei em algumas acções do partido. Estive em Paris, na altura em Marcelo Rebelo de Sousa era presidente do PSD, mas depois acabei por sair, por falta de tempo. Mas mantive sempre contacto com o Carlos Gonçalves, que conheci aqui no Luxemburgo numa reunião do partido. Quanto à actividade política aqui no Grão- Ducado, sou militante do CSV há muito tempo. Não vou às reuniões porque são todas em luxemburguês e isso aborrece-me".

Admiradora confessa e amiga de Tony Carreira, Ana Maria Albuquerque chegou ao Luxemburgo há quinze anos. Na altura casada, com dois filhos, veio com a promessa de trabalhar numa clínica privada de saúde. Deixou o emprego de auxiliar de saúde na Clínica da Reboleira e veio à procura de uma vida melhor. Só que afinal o emprego que lhe tinham prometido nunca lhe chegou às mãos por causa da língua. "Eu fui enganada, na época. Quando cheguei para assinar o contrato perguntaram-me se eu falava francês e eu respondi que sim, mas mal. Então a senhora que me atendeu disse-me que não me podia dar o lugar. Acabei por ir trabalhar nas limpezas, como a maior parte das pessoas que vinham nessa altura, e nunca apaguei esse período do meu currículo. Estive um ano e meio a trabalhar em casa de uma família luxemburguesa e foi por essa altura que eu soube da existência da rádio Latina. Mandei um currículo ao director da altura, uma vez que eu já tinha feito rádio em Lisboa. A resposta demorou alguns meses, mas chegou. Fiz um teste e fui admitida. E ainda hoje lá estou", recorda Ana Maria.

Agora tem a possibilidade de vir a ocupar uma cadeira do Palácio de S. Bento, em Lisboa. Sendo a terceira da lista, e no caso de o PSD ganhar as eleições, é bem provável que seja a chamada a substituir o primeiro. "Claro que vou", refere Ana Maria. "Não vai ser fácil, porque tenho um filho a estudar aqui , que vai para a Universidade, e o mais pequeno na creche, mas também tenho uma filha em Lisboa, que não conseguiu arranjar aqui emprego. Em termos pessoais e familiares não vai ser fácil, mas acho que posso ser a voz dos emigrantes portugueses na Assembleia".

Domingos Martins

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Candidato da CDU
Gomes da Silva, o candidato com "espírito de revolta"

Manuel Gomes da Silva, presidente da Comissão de ex-Militares no Luxemburgo, é candidato da Coligação Democrática Unitária (CDU) pelo círculo europeu e afirma ao CONTACTO ter aceite o convite por "espírito de revolta" com os que "muito prometem e depois pouco fazem".

Manuel Gomes da Silva, residente em Schifflange, 58 anos e alfaiate de profissão, notabilizou-se nos últimos dez anos por se ter dedicado à causa dos ex-militares da Guerra do Ultramar, reivindicando a contagem do tempo de serviço destes últimos, para efeitos de reforma.

É sobretudo esta última causa que mais descontentamento provoca a Gomes da Silva que reconhece não ser filiado na CDU, mas que aceitou o convite do responsável da CDU pela emigração, João Armando , para mostrar o seu descontentamento face a alternância do poder executivo entre o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrático (PSD) que em nada tem contribuído para a principal reivindicação dos ex-militares do Ultramar.

ESPOLIADOS NO TEMPO

Gomes da Silva emigrou para o Luxemburgo em 1974, logo após ter cumprido 37 meses de serviço militar, dos quais 27 meses passados em Angola.

Nesse período, o ex-combatente do Ultramar recorda que para passar a fronteira portuguesa, teve que pagar a "licença militar" (1.200 escudos). "Como se o meu tempo de serviço militar não fosse suficiente", insurge-se.

"Ao menos que tivessem utilizado esse dinheiro para nos declarar na Segurança Social", sugere Gomes da Silva, questionando "o que foi feito desse dinheiro" que, segundo o mesmo, "envolveu um considerável número de portugueses que ao regressar do Ultramar, emigraram, pagando a referida licença militar".

Gomes da Silva não tem dúvida de que foram "espoliados", como se já não bastasse terem sido "espoliados no tempo, ao perder anos da sua juventude na guerra".

PROMESSAS VÃS

O candidato da CDU não tem pejo em considerar o ex-ministro da Defesa Paulo Portas e o actual secretário de Estado das Comunidades António Braga "como os principais responsáveis e traidores na questão dos ex-militares do Ultramar negando a regulamentação da legislação relativa à contagem do tempo de serviço militar dos emigrantes para efeitos de reforma".

Gomes da Silva recorda com exactidão o dia da inauguração das novas instalações do Consulado de Portugal no Luxemburgo, em 2007, quando o secretário de Estado das Comunidades, António Braga, "disse que o problema dos ex-militares iria ser resolvido até ao fim desse ano, o que acabou por não acontecer".

"Depois veio dizer (António Braga) que o Governo tinha entrado em consenso com a Segurança Social e que a questão se iria resolver", acrescenta, reconhecendo que a lei foi aprovada, mas "continua a valer zero, porque para nós ex-militares emigrantes, o essencial é que o tempo de serviço militar conte para efeitos de reforma. No fundo, continuamos a ser enganados", lamenta. O presidente da Comissão dos Ex-militares do Luxemburgo admite que actualmente "não vale a pena fazer promessas vãs, porque todas as atenções estão viradas para os resultados eleitorais", avisando que independentemente do vencedor, irá continuar "esta luta".

O ex-combatente do Ultramar alerta para o facto de o "problema acabar por ser ultrapassado pela questão da idade das pessoas, que vão falecendo e o Governo tem noção disso, mas faz-se despercebido porque lhe convém", sublinha.

"Durante estes dez anos de luta foram feitas quatro leis que passaram sempre ao lado das nossas reivindicações", lembra.

"A última, a lei 3 de 2009, além de ser confusa é discriminatória porque apenas abrange apenas os ex-combatentes na zona de risco que estavam inscritos na então Caixa de Previdência. Estes, dependendo da considerada zona de risco, têm direito a uma pensão que varia entre os 75 e os 150 euros por ano, o que é uma aberração", protesta. "Gostava que saber quais são os critérios deles para avaliarem as diferentes zonas de risco. O perigo era uma constante e nunca se sabia de onde vinha o inimigo", enfatiza.

"O que nós exigimos é que a contagem do tempo de serviço militar possa contar para efeitos de reforma nos países de acolhimento, igualmente para todos. É um dever que o Estado português tem para com aqueles que serviram a Pátria", concluiu.

TODOS DEVEM VOTAR

Para as eleições legislativas de 27 de Setembro, Gomes da Silva diz ser "essencial que todos votem, independentemente do sentimento político de cada um".

No entanto, o presidente da Comissão de ex-Militares no Luxemburgo considera que "após 35 anos de Governo do PS e do PSD, Portugal precisa de outras ideias e de outras políticas".

Gomes da Silva faz ainda um apelo mordaz àqueles "que se juntam nos cafés e dizem todos perceber de política, e depois nada fazem, nem nunca votaram".

O ex-militar lamenta que actualmente as pessoas não sejam "tão participativas como em 1974 quando veio para o Luxemburgo, porque os tempos eram outros, ao contrário de hoje, em que muitos usufruem de regalias sociais mais do que merecem."

Nuno Costa / Á. Cruz
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Candidato do Bloco Esquerda
Manuel Bento: do sindicalismo para a política

Manuel Bento é o cabeça de lista do Bloco de Esquerda (BE) pelo Circulo Europa nas próximas eleições legislativas.

Radicado no Luxemburgo há mais de 30 anos e com um passado militante importante neste país, Manuel Bento aceitou o convite do BE para encabeçar a "voz da mudança da política externa em relação às comunidades portuguesas".

Tendo sido sempre um simpatizante "das políticas de esquerda", nas últimas eleições europeias integrou as listas eleitorais, como independente, do partido luxemburguês "Déi Lénk". Daí até ser convidado pelo BE, "partido parecido com o Déi Lénk", foi um passo.

Numa campanha que privilegia o local, embora já tenha ido a outros países europeus para defender as cores do BE, Manuel Bento lembra que o Bloco "luta por uma política coerente e similar para todos os portugueses, quer estejam em Portugal ou no estrangeiro", afirma. Daí que no sitio internet do BE não sejam visíveis as reivindicações para os "residentes portugueses no estrangeiro visto que, na sua essência, são as mesmas reivindicações nacionais". E continua: "os portugueses no estrangeiro são completamente esquecidos pelos Governos portugueses.

Na recente lei eleitoral aprovada, todos aqueles que completam 17 anos são automaticamente recenseados. Mas esta lei não se aplica aos portugueses no estrangeiro: uma diferença que cava um fosso muito grande entre duas classes de portugueses", lamenta.

A falta de "apoios e motivação do Governo" na divulgação e ensino das língua e cultura portuguesas "é tremenda, valendo todo o trabalho de pais que, de uma maneira voluntária, colmatam esta falha".

Bento relembra igualmente o Conselho das Comunidades Portuguesas que, "completamente desacreditado, por falta de apoios do Governo, tem que viver com pouco mais de 100 mil euros anuais que, feitas bem as contas, não chega para fazer um único plenário", diz.

Se no Luxemburgo "temos finalmente um consulado funcional, em muitos países europeus, a situação continua sem as condições mínimas para funcionar. É preciso realmente uma mudança". Algumas das criticas, mas também soluções que levam a que Manuel Bento, conhecido dirigente sindical entre outras funções, se identifique com as reivindicações do BE.

UMA VIDA LIGADA AOS SINDICATOS

Manuel Bento tem 52 anos e é natural da Carregueira-Chamusca. Casado, pai de duas filhas, Manuel Bento vive no Luxemburgo desde 1979. Com um passado militante em Portugal é naturalmente que, chegado ao Luxemburgo, integra o sindicato OGB-L onde é, há alguns anos, delegado sindical do sector da construção civil. Foi presidente durante 10 anos do sindicato da construção civil e foi eleito para a Câmara dos assalariados (ex-Câmara do Trabalho).

Pertenceu à direcção do CLAE (Comité de Ligação das Associações de Estrangeiros) e foi activo na CCPL (Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo). É presidente da Associação dos Amigos do 25 de Abril da qual é também um dos fundadores.

Gualter Veríssimo

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O CONTACTO começa aqui a operação legislativas de 2009 que no próximo domingo vamos acompanhar a par e passo, com os resultados eleitorais no blogue do jornal, em http://www.blogger.com/www.semanariocontacto.blogspot.com, na internet. Também na próxima edição, os resultados, os cenários de governabilidade e as reacções à escolha feita pelos portugueses vão estar em destaque no CONTACTO.

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