Os estudos mais importantes sobre a pobreza em Portugal têm como traço comum a persistência do fenómeno, apesar das várias políticas para o mitigar, disse à agência Lusa a professora da Faculdade de Economia do Porto (FEP) Aurora Teixeira.
"Têm existido esforços em termos de políticas para mitigar a pobreza, mas as questões são de tal maneira estruturais e persistentes que os pobres são sempre pobres e é muito difícil saírem desta condição", referiu Aurora Teixeira, co-organizadora da conferência "O que sabemos sobre a pobreza em Portugal?", que decorre este sábado na FEP.
A académica reconheceu que, em momentos de crise económica, "há mais risco de uma maior incidência da pobreza", sobretudo pelo aumento do desemprego.
"Mas a quantidade de pobres que temos e as características dessa pobreza continuam lá muitos anos. As políticas têm sido incapazes de resolver os problemas", frisou.
Aurora Teixeira considerou que a atribuição de subsídios "é um remédio pouco eficaz", que, "muitas vezes", se torna "pernicioso".
"O subsídio pode ajudar, mas não vai resolver o problema. A ideia é dar uma cana e ensinar a pessoa a pescar. Tem de ser uma acção concertada entre vários ministérios, centrada na educação", defendeu.
A docente universitária reconheceu que "um governo não resolve por si só o problema da pobreza", cuja solução tem de passar pelas próprias pessoas e implica a adopção de políticas "por períodos mais longos do que os quatro anos de um governo".
Na opinião de Aurora Teixeira, as instituições de combate à pobreza "têm de ter mais independência" e não podem mudar de dirigentes e de políticas cada vez que muda o governo.
A conferência da FEP, dedicada à memória da investigadora Maria Leonor Vasconcelos Ferreira, inclui intervenções de docentes universitários e de dirigentes de instituições que estudam e combatem a pobreza.
Entre os conferencistas, contam-se as presidentes da Federação Portuguesa do Banco Alimentar Contra a Fome, Isabel Jonet, da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego, Catarina Marcelino, e do Instituto Nacional de Estatística, Alda Maria Caetano Carvalho.
Nuno Alves, do Banco de Portugal, apresenta hoje os resultados preliminares de um estudo em que aponta a educação como "um importante factor explicativo da pobreza em Portugal".
No artigo que irá apresentar, Nuno Alves identifica vários canais de transmissão intrageracional da pobreza, "nomeadamente os elevados retornos da educação no mercado de trabalho em Portugal, o facto de os cônjuges apresentarem em média percursos escolares análogos e a estreita relação entre o nível de pensões e o nível de salários ao longo ou no fim da vida activa".
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