Engenheiros portugueses contribuem para numa nova missão espacial europeia de exploração da Terra, com um processador de dados crucial num satélite de recolha de indicadores de alterações climáticas a lançar em 2 de Novembro.
Esta "Missão da Água" da Agência Espacial Europeia (ESA), orçada em 315 milhões de euros, irá produzir observações globais da hidratação do solo em toda a massa terrestre e da salinidade dos oceanos, com aplicações práticas em áreas como a meteorologia, agricultura, pescas, marinha e gestão dos recursos de água.
Os dados a recolher pelo SMOS (acrónimo em inglês para Humidade do Solo e Salinidade Marinha) servirão para definir modelos físicos do comportamento do clima a nível planetário, a partir dos quais será possível extrair indicações sobre as correntes oceânicas, a desertificação, o degelo das calotas polares ou a previsão de fenómenos meteorológicos extremos.
O satélite - com lançamento previsto na base militar russa de Plessetsk, perto de Moscovo - fornecerá mapas globais da hidratação do solo pelo menos a cada três dias e mapas da salinidade a cada 30 dias, o que levará a uma melhor compreensão do ciclo da água, nomeadamente dos processos de troca entre a superfície da Terra e a atmosfera.
O envolvimento de engenheiros portugueses no projecto começou em 2003, depois de um consórcio formado pela Deimos Engenharia e a Critical Software ter ganho um concurso europeu para o desenvolvimento do processador de dados de um aparelho produzido pela EADS CASA Espacio, em Espanha.
"Foi necessário criar todo um algoritmo bastante complexo para interpretar fisicamente os dados recolhidos pelo satélite", disse à Lusa o director da Deimos Engenharia, Nuno Ávila.
O objectivo do processador de dados "é pegar nas medições em bruto recolhidas pelo satélite, que consistem em sinais de rádio na frequência das micro-ondas emitidos pela superfície terrestre, e relacioná-las de forma muito específica para determinar em permanência a salinidade do mar e a humidade da terra", explicou.
Nas primeiras fases do contrato, que já vai em cerca de três milhões de euros, a Deimos Engenharia teve como parceira outra empresa portuguesa, a Critical Software, sendo que o INETI teve também uma pequena participação inicial.
Este projecto, segundo Nuno Ávila, é um dos "ex libris" da Deimos Engenharia por se tratar de "todo um sistema" e não apenas de uma parte. É que a empresa - criada em 2002 e que tem na ESA o seu principal cliente, embora já tenha vendido software à NASA - faz geralmente subsistemas.
"Neste caso, há um princípio, um meio e um fim", afirmou. "Todos os dados do SMOS passam pelo nosso processador".
Uma equipa de três engenheiros aeroespaciais e físicos da empresa estará no Centro de Controlo da ESA (ESAC) em Villafranca del Castilho, perto de Madrid, a receber os primeiros dados do satélite e a fazer, juntamente com outras equipas da ESA, a validação e afinação do algoritmo.
O satélite, cujo lançamento está marcado para as 1h50 (hora de Lisboa) de 2 de Novembro, ficará numa órbita polar, a 757 kms de altitude.
Texto: Lusa / Foto: Domínio Público
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