domingo, 25 de outubro de 2009

Alterações climáticas: Fim da Terra será daqui a 500 milhões de anos, escreve Filipe Duarte Santos

A Terra vai deixar de ser um planeta azul para se tornar castanho avermelhado, como Marte, e os homens vão colonizar outros planetas ou ser substituídos por andróides... daqui a 500 milhões de anos.

O cenário parece uma passagem de um filme, mas é uma realidade científica explorada pelo especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos no livro "Que Futuro? Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento e Ambiente", lançado em 2007, com a chancela da Gradiva.

A obra situa a ciência e a tecnologia dentro da problemática do desenvolvimento e do ambiente do planeta e questiona a sustentabilidade do actual paradigma de crescimento.

"Há uma incerteza muito grande para os próximos 50 ou 100 anos, porque esse futuro depende muito da nossa acção individual e colectiva. Mas num horizonte de milhões de anos, são certas as transformações que o planeta vai sofrer" com a nova era glaciar, explicou à agência Lusa o especialista.

Nos próximos 500 milhões a 800 milhões de anos, o aumento da luminosidade do sol e da temperatura na atmosfera - que já se regista actualmente de uma forma lenta - é o principal responsável pelas grandes transformações.

Filipe Duarte Santos, baseando-se nos últimos estudos científicos sobre o tema, dá como certo o desaparecimento dos oceanos, cujos fundos ficarão cobertos por espessas camadas de sal e gesso.

"A Terra deixará de ser o planeta azul e irá adquirir uma cor castanha com tonalidades vermelhas tal como Marte", lê-se numa passagem do livro, na qual especifica que a evaporação dos oceanos vai tornar a atmosfera da Terra semelhante à de Vénus.

O autor questiona até onde irá chegar o homem nesta longa história e adianta que a resposta depende sobretudo da relação que o Homo Sapiens estabelecer com a biosfera e com a biodiversidade a médio e longo prazo.

Várias soluções de engenharia geofísica e planetária permitem ao autor imaginar como pode a Terra manter-se habitável para lá dos 500 a 800 milhões de anos.

Duas soluções: um espelho reflector contra a radiação solar ou emigrar da Terra para planeta extra-solar


Uma delas é colocar um espelho reflector da radiação solar entre a Terra e o sol, criando uma zona de sombra na Terra, para a proteger da crescente irradiação solar total.

Outro tipo de resposta para assegurar a sobrevivência é emigrar da Terra, sendo a alternativa mais próxima Marte, onde a irradiação solar total é inferior a metade da terrestre.

"Provavelmente Marte será colonizado pelos humanos muito antes das condições de habitabilidade da Terra se deteriorarem irreversivelmente. Mas Marte é um local muito inóspito para o homem", diz o autor.

A colonização do sistema solar é necessariamente um processo muito selectivo, conduzido por elites minoritárias, diz Filipe Duarte Santos, lembrando que esse processo vai certamente gerar problemas éticos, políticos e sociais graves.

Outra solução para a sobrevivência do homem é a busca de um novo abrigo num planeta extra-solar semelhante à Terra, ao qual teríamos de chegar por meio de uma longa viagem interestelar.

Depois do Homo Sapiens... a Maquina Sapiens

Para assegurar a sobrevivência depois dos 500 milhões de anos, o autor imagina um cenário ainda mais especulativo onde as limitações biológicas são ultrapassadas pela via do transhumanismo e o Homo Sapiens é substituído pela Maquina sapiens.

"Sendo possível conhecer completamente os mecanismos de funcionamento e as estruturas organizativas do cérebro humano, este podia ser reconstruído com as componentes orgânicas substituídas por nanoestruturas moleculares", defende na obra.

Este cérebro não biológico de dimensões muito reduzidas, que seria associado a um robot, podia ter autonomia e formas de consciência semelhantes à do Homem dos dias de hoje.

Mas algumas das grandes mudanças que o especialista dá quase como certas para o Planeta vão já acontecer nos próximos 50 mil anos.

Entre elas, estão os campos de gelo da Gronelândia e de Antárctica que deverão "fundir-se completamente" se a concentração de dióxido de carbono atmosférico ultrapassar determinados valores, provocando uma subida do nível médio do mar de cerca de 60 metros.

"Os países que, porventura, existirem nas latitudes elevadas do hemisfério norte, onde hoje se localizam os países escandinavos, o Canadá e uma boa parte da Rússia e dos Estados Unidos, ficarão soterrados debaixo de enormes camadas de gelo e as respectivas populações terão que migar para sobreviver".

Os ventos vão ser mais fortes, a massa de cobertura vegetal do planeta vai diminuir acentuadamente, as savanas vão proliferar e as florestas tropicais húmidas refugiar-se em pequenos nichos dispersos.

Quanto aos dias de hoje, o especialista constata estarmos numa fase de transição de uma época dominada pela supremacia dos combustíveis fósseis para "uma outra ainda mal definida e com muitas incertezas".

Como especialista em alterações climáticas, destaca as várias razões que aconselham a diminuir a dependência dos combustíveis fósseis, entre as quais a redução das emissões de dióxido de carbono, o aumento do preço do petróleo (já nos 100 dólares o barril) e a relativa insegurança do seu abastecimento face à certeza de que as reservas não são ilimitadas.

Filipe Duarte Santos diz, no livro, que tem esperança de que seja conseguida a exploração comercial da energia nuclear de fusão nos próximos 50 anos, a única solução de nuclear que considera dar a segurança necessária, mas salienta que as incertezas desta exploração são ainda muitas.

"Devemos fazer um grande esforço para reduzir o consumo de combustíveis fósseis e, simultaneamente, desenvolver e aplicar tecnologias de captura e sequestro de dióxido de carbono emitido nesse consumo. É um desafio muito grande", refere na obra.

"A capacidade de a ciência e a tecnologia assegurarem a continuidade do actual paradigma do crescimento está limitada, em última analise, pelas leis da natureza", concluiu o especialista.

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