A 17 de Outubro assinalou-se o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza. A efeméride foi assinalada um pouco por todo o mundo. No Luxemburgo também; um país onde é preciso quase três mil euros, por mês, para sobreviver e onde 13,4% da população vive abaixo do limiar da pobreza. Num contexto de pobreza mundial, 2010 será o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social.
Um em cada sete habitantes no Luxemburgo é afectado pela pobreza, ou seja, 13,4% da população vive abaixo do limiar da pobreza. As conclusões são do Statec, o organismo de estatísticas do Grão-Ducado, e que foram divulgadas no âmbito do Dia Internacional de Erradicação da Pobreza, assinalado no sábado passado. Os números referem-se a 2008 e constam do quinto relatório sobre o "Trabalho e a Coesão Social no Luxemburgo".
Mas afinal, o que é ser pobre? Em 2001, os ministros europeus clarificaram este conceito precisamente quando definiam a Estratégia de Lisboa, visando fazer da Europa a economia mais competitiva do mundo. Assim, para determinar o limiar mínimo da pobreza de uma população, consideraram que era preciso conhecer o rendimento líquido mediano disponível de um adulto (não confundir com o rendimento líquido médio). No Luxemburgo, esse montante elevava-se a 4.172 euros por mês em 2008, o que significa concretamente que metade dos lares dispunha de menos de 4.172 euros por mês, enquanto que a outra metade dispunha de mais de 4.172 euros por mês.
No entanto, uma família numerosa precisa de fazer face a despesas mais importantes que um lar composto por uma só pessoa. É por isso que, tendo em conta a composição dos agregados familiares, o Statec calculou que o “rendimento mediano disponível de um adulto” correspondia a 2.625 euros por mês. O Conselho Europeu definiu que se um lar não dispuser de 60 % deste rendimento mediano, "está no limiar da pobreza".
Em termos práticos, são consideradas pobres, por exemplo, as pessoas que vivem sozinhas, com um rendimento mensal disponível que não ultrapasse os 1.546 euros, ou uma família composta por dois adultos e duas crianças com menos de 14 anos, cujo rendimento disponível não seja superior aos 3.246 euros. Nesta situação estão 13,4 % da população do Grão-Ducado.
Uma taxa que, no Luxemburgo, permanece estável apesar da crise, numa altura em que o desemprego sobe por toda a Europa, com perspectivas de que ele se mantenha alto por bastante tempo. Esta tendência indica, de acordo com Serge Allegrezza, director do Statec, que "nós dispomos de fortes estabilizadores sociais, que temos um tecido social que funciona muito bem". E a iniciativa do Governo de manter elevadas as despesas sociais em 2010 deixa Serge Allegrezza bastante optimista, afirmando "não esperar grandes mudanças dramáticas", na medida em que o crescimento económico evoluir como está previsto.
Mesmo que o nível salarial baixasse, a taxa de lares "no limiar da pobreza" não teria necessariamente de aumentar, pois trata-se de um cálculo relativo que depende do salário mediano. Se o salário mediano baixar, o limiar da pobreza baixará também. "Aqueles que criaram esta definição tinham sem dúvida um problema com a palavra pobreza", comentou ainda Serge Allegrezza, estimando que o "risco de pobreza" é hoje em dia "uma espécie de rótulo". E àqueles que, em vez de ficaram contentes com a estabilidade das taxas, desejariam vê-las baixar, Serge Allegrezza responde: "Há possibilidades de fazer de outra forma, mas falar de transferências sociais e de impostos, é uma questão sensível e política. Mas é óbvio que o limiar da pobreza não descerá sozinho."
Dinheiro e satisfação com a vida
O Statec dedicou-se igualmente a analisar a questão das classes médias. Para além dos tradicionais trabalhadores liberais, os assalariados com um elevado nível de formação vieram a pouco e pouco instalar-se no Luxemburgo (quadros, engenheiros, mas também altos funcionários). Concretamente, o Statec estima que pertencem a estas classes os lares que dispõem de 1.800 a 3.900 euros por mês. O que corresponde a 60 % da sociedade. Um número estável desde 1995. De novo, contrariamente àquilo que se passa em certos países europeus, as classes médias luxemburguesas não diminuíram os rendimentos.
Resta saber se o dinheiro, para além do bem-estar material, traz a felicidade. O Statec nota que ao mesmo tempo que o PIB por habitante não parou de aumentar desde os anos 1980 até 2007, paralelamente, a noção de "satisfação com a vida" mantém-se estável no Luxemburgo. Serge Allegrezza sublinha que, apesar de nos outros países europeus se verificar uma correlação muito clara entre "satisfação com a vida" e o PIB por habitante: "O dinheiro não traz a felicidade, mas ajuda muito". Os habitantes do Luxemburgo parecem, no entanto, ser mais difíceis de satisfazer que a média dos seus conterrâneos europeus.
Estudo do CEPS/Instead revela necessidades orçamentais dos residentes no país: pelo menos 2.486 euros por mês para sobreviver
O CEPS/Instead (Centro de Estudo das Populações, da Pobreza e das Políticas Socioeconómicas / International Network for Studies in Technology, Environment, Alternatives, Development) acaba de publicar um estudo sobre as necessidades financeiras dos cidadãos no Grão-Ducado.
Os lares consideram que é necessário dispor em média de 2.486 euros mensais para fazer face às despesas, segundo revela este estudo. Todos os anos é colocada a mesma questão aos lares inquiridos: "Na sua opinião, qual seria para um agregado da sua dimensão o montante mensal mínimo necessário para fazer face às despesas que tem?".
A esta questão, junta-se uma outra que diz respeito à percepção do conforto financeiro do lar: "Se tivermos em consideração os recursos mensais do seu agregado, diria que lhe permitem viver muito dificilmente, dificilmente, mais ou menos dificilmente, mais ou menos facilmente, facilmente ou muito facilmente?"
Um pouco mais de oito em cada 10 lares consideram conseguir viver com os rendimentos mensais de que dispõem. Em 2007, os resultados do estudo mostraram que 82 % dos lares do Luxemburgo dispunham de recursos mensais que consideravam suficientes para lhes permitir viver mais ou menos facilmente, facilmente ou muito facilmente (ou seja, respectivamente 30 %, 41 % e 11 %).
Cerca de 18 % dos lares têm a percepção de que os seus recursos mensais lhes permitem viver mais ou menos dificilmente (11 %), dificilmente (5 %) e muito dificilmente (2 %). Para poderem simplesmente fazer face às despesas com o dinheiro que dispõem, os luxemburgueses estimam precisar em média de 2.486 euros por mês.
Esta média esconde disparidades de acordo com o número do agregado familiar: 1.770 euros para um agregado composto por uma pessoa, 2.394 euros para um agregado de duas pessoas, 2.780 euros para três pessoas e 3.100 euros para quatro pessoas.
O estudo pode ser consultado na na página www.ceps.lu , na internet.
Foto: Marc Wilwert/Texto: Cristina Campos
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