domingo, 1 de novembro de 2009

Portugal: Saramago está a escrever novo livro sobre ausência de greves em fábricas de armas

O escritor José Saramago revelou sexta-feira que já está a escrever um novo romance, que tem como ponto de partida a seguinte pergunta: “Porque é que nunca houve uma greve numa fábrica de armas?”.

O Prémio Nobel da Literatura 1998 falava na sessão de apresentação do seu mais recente romance, “Caim” na Culturgest, em Lisboa.

“Todos aqueles que me conhecem bem sabem que sempre me tenho interrogado: porque é que nunca houve uma greve numa fábrica de armas? Nunca… Serão aqueles operários menos conscientes?”, inquiriu.

Procurou durante algum tempo, sem êxito, um episódio que pensava ter lido em “L’Espoir”, de Malraux, ou em “Por Quem os Sinos Dobram”, de Hemingway, passado na Guerra Civil de Espanha, sobre “um morteiro que não rebentou e que tinha um papel dentro, escrito, em português, que dizia: ‘Esta bomba não rebentará’”.

É esse o impulso inicial da história do seu próximo livro: “que uma classe operária tão capaz de lutas não tenha conseguido entrar nos portões de uma fábrica de armas”.

“Faz-se o que se pode contra a droga, faz-se o que se pode contra a gripe A… e o que é que se faz contra o comércio de armas? Nada”, observou.

Saramago admitiu que gostaria de ter escrito “um livro a que pudesse chamar ‘O Livro do Desassossego’ mas já está, o Fernando Pessoa antecipou-se”.

Mas – prosseguiu – “o meu desassossego não é exactamente o dele: como eu não vivo desassossegado, quero desassossegar”.

Depois, citou um verso de Camões, que diz “Estavas linda, Inês, posta em sossego” e interrogou-se: “O que é isso de ‘posta em sossego’? Quer dizer, cortaram-lhe o pescoço, ficou ‘posta em sossego’!” - a plateia deu gargalhadas e aplaudiu de pé, novamente.

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