Portugal deve aumentar rapidamente o nível de literacia da população sob pena de enfrentar dificuldades na realização dos objectivos económicos e sociais e ficar dependente de transferências financeiras comunitárias "maciças" para evitar o declínio do seu nível de vida.
Esta é uma das conclusões do estudo realizado pela Data Angel, a pedido do Plano Nacional de Leitura (PNL), e hoje apresentado em Lisboa pelo seu coordenador, Scott Murray, numa conferência com a presença da ministra da Educação, Isabel Alçada, e de alguns convidados para analisar o documento, como o economista João Salgueiro.
Com o título "A Dimensão Económica da Literacia em Portugal", o estudo aponta que o país "apresenta os níveis mais baixos de competências de literacia entre todos os países onde se realizaram inquéritos" neste âmbito.
"Portugal tem de dedicar muito mais atenção à literacia. As análises do impacto da literacia no desempenho económico durante os últimos 50 anos deixam poucas dúvidas de que o país pagou um preço significativo por não ter aumentado a oferta de competências de literacia ao dispor da economia", aponta o documento.
Iniciativas como o Plano Nacional de Leitura ou as Novas Oportunidades "estão no caminho certo, mas não são suficientes", defendeu Scott Murray.
Se investir de uma forma mais eficiente, Portugal tornar-se-á mais competitivo, mas se não conseguir enfrentar o desafio poderá registar quebra no emprego e aumento da pobreza e da desigualdade social, concluiu o coordenador do trabalho.
O estudo refere que "a exigência em conhecimentos e em competências do mercado de trabalho português é baixa, numa perspectiva comparativa", e o mercado laboral "não parece compensar as competências de literacia na medida esperada".
Aliás, os alunos portugueses, com excepção para os melhores, "têm poucos incentivos para investirem tempo e esforço no aumento do seu nível de literacia".
O economista João Salgueiro discorda de algumas das conclusões do estudo e salientou que o país tem "um baixo nível de literacia e mesmo assim dois terços da economia não reconhece a vantagem" de ter uma massa laboral com mais competências.
"Temos um problema de falta de competitividade da nossa economia" e o aumento da competitividade também passa pela literacia, mas esta é só um das condições, que passam "por uma legislação que protege o passado e não o futuro a nível laboral, por uma fiscalidade pesada demais, por um sistema de Justiça demorada", defendeu João Salgueiro.
Para a ministra da Educação, as conclusões do estudo "demonstram que há várias medidas que já estão em curso, como o Plano Nacional de Leitura e as Novas Oportunidades, que são essenciais para o desenvolvimento da Educação e permitem uma qualificação dos portugueses tanto ao nível das competências básicas como da formação profissional".
Isabel Alçada referiu ser preciso que "toda a sociedade portuguesa se mobilize para que a melhor oferta em termos de qualificações corresponda a um reconhecimento da parte do tecido empresarial de que a economia evolui se as empresas também melhorarem, se se modernizarem e se tiverem profissionais mais qualificados".
Entende-se por literacia a capacidade de cada indivíduo compreender e usar a informação escrita, de modo a atingir os seus objectivos, a desenvolver os seus próprios conhecimentos e competências e a participar activamente na sociedade.
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