O cenário é de guerra na capital do Haiti que “está devastada, um caos”, disse à Lusa o activista da organização não-governamental brasileira Viva Rio, Flávio Soares, a partir de Port-au-Prince, onde o risco de saques é iminente.
Flávio Soares disse à Lusa temer pela segurança da equipa que está refugiada numa casa sem poder sair.
“Meu Deus, isso aqui está um caos. Muitos prédios desmoronaram, tem muita gente disputando comida, os mercados fecharam, muitas pessoas estão nas ruas, feridas, pessoas mortas sendo carregadas. A população precisa de ajuda urgente, há pessoas ainda vivas sob escombros, uma tristeza só”, descreveu num contacto com a Lusa via internet.
Flávio Soares, 32 anos, está no Haiti há mais de um ano e disse nunca ter passado por algo parecido. Ele e mais 15 pessoas, somando a equipa da Ong e um grupo de investigadores da Universidade de Campinas (Unicamp), estão abrigados numa casa da própria instituição sem poder sair.
“O clima é de insegurança. Temos luz e conseguimos comprar água, mas estamos sem telefone e a tentar comprar comida. Não temos uma grande quantidade de mantimentos”, afirmou.
Soares disse que ainda não consegue contacto com a Embaixada brasileira que também foi atingida no terramoto. “Estamos tentando entrar em contacto com alguém da Embaixada para avisar que estamos aqui e para ter alguma orientação. Pelo que parece, as tropas ainda não estão nas ruas”, relatou.
O brasileiro coordena um projecto de capoeira com jovens haitianos e disse não ter tido notícias de nenhum de seus alunos.
Enquanto falava à Lusa, a conversa teve que ser interrompida por tiros que eram ouvidos da rua.
Durante a conversa, Soares recebeu a notícia da morte de um amigo.
O maior medo, segundo explicou, é a sua condição de estrangeiros, "com iminência de manifestações e saques”.
Mesmo com a tragédia, Flávio Soares disse que vai ficar no Haiti e não pretende voltar ao Brasil. “Não podemos abandonar as pessoas no momento em que elas mais precisam. Mais que comida e água, elas necessitam de solidariedade, que olhemos nos olhos delas e demonstremos que estamos juntos, que lutamos juntos”, declarou.
A apreensão ainda é grande, afirmou, ao referir que esta situação poderá afectar a paz estabelecida no país: “Certo é que o Haiti precisa de ajuda e que as tropas estejam nas ruas também para dar segurança. A situação, apesar de instável, estava sob controlo com a presença das tropas, principalmente no ano passado, que não tivemos furacões. Estava tudo bem até ontem.”
A ONG Viva Rio promove, desde 2007 no Haiti, projectos integrados de segurança e desenvolvimento para a redução da violência e de desmobilização de grupos armados em Port-au-Prince.
O seu efectivo é de 400 haitianos e nove brasileiros.
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O sismo de magnitude 7,0 na escala de Richter abalou terça-feira o Haiti, fazendo ruir vários edifícios públicos, incluindo o Palácio Nacional, que acolhe a presidência.
O sismo foi sentido também em Cuba, na Jamaica e Bahamas. A Cruz Vermelha Internacional calcula em três milhões o número de pessoas afectadas pelo sismo.
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