A má qualidade das construções no Haiti agravou as consequências do sismo de terça-feira, deixando milhares de pessoas sob os escombros, de acordo com técnicos norte-americanos.
"É evidente que a qualidade das construções, mesmo as que foram alegadamente erigidas de acordo com as leis de engenharia, não é de todo boa", disse à AFP Farzad Naeim, presidente da direcção do Instituto de Investigação em Engenharia sobre Tremores de Terra (EERI).
A maior parte dos grandes edifícios de Port-au-Prince, capital do Haiti, foram provavelmente construídos com betão muito compacto, considerou o especialista, apoiando-se no estudo de fotos.
Num relatório apresentado à Conferência sobre Engenharia de Tremores de Terra, em Pequim no ano de 2008, o betão compacto foi apresentado como "o principal perigo em muitos centros de cidades de todo o mundo devido ao seu potencial de desmoronamento".
As regras de construção em vigor nos Estados Unidos prevêem que o betão seja maleável "propriedade que lhe permite dobrar-se como um arco, sem se partir", segundo o EERI. Mas foi preciso chegar-se a meados dos anos de 1970 para que os arquitectos abandonassem progressivamente o betão compacto, tanto nos Estados Unidos como no resto do mundo.
Ora, muitos dos edifícios que desmoronaram no Haiti, o país mais pobre do continente americano, "foram construídos há uma eternidade. Em geral, os edifícios antigos não se encontram em bom estado e não há dinheiro para os tornar mais estáveis", de acordo com Naeim.
"Juntem a esta situação os problemas que existem habitualmente em todos os países subdesenvolvidos - corrupção, falta de regulamentação na engenharia e empresas de construção - e, de grave, a situação torna-se catastrófica", adiantou.
Para Ron Hamburger, do Conselho Nacional das Pontes e Estradas, a destruiçãoa em Port-au-Prince foi ainda maior pelo facto do epicentro do sismo se ter situado a poucos quilómetros da capital haitiana.
"Uma magnitude 7 (de acordo com o Instituto Geofísico dos Estados Unidos) a 15 quilómetros de uma cidade é muito grave", observou.
"Para resistir a um tal sismo seria preciso que as regras que regulamentam a construção dos edifícios fossem muito rigorosas" e que os controlos existentes também o fossem", explicou à AFP.
"Ouvi dizer que o Haiti não tinha aplicado este tipo de regras, por isso é provável que mesmo os edifícios que as pessoas acreditam ter sido construídos em betão, não tenham sido concebidos ou construídos de acordo com normas aceitáveis", comentou o especialista.
Naeim, que chefiou a delegação de engenheiro que se deslocou a Bam, no Irão, aquando do sismo que destruiu toda a cidade em Dezembro de 2003, matando 31 mil pessoas, deplorou que a história se tenha repetido.
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