Dezenas de anos antes de Bartolomeu Dias ou Vasco da Gama (imagem à esquerda) nascerem, grandes frotas chinesas já tinham navegado até à costa oriental de África e com “objetivos pacíficos”, realça uma nova biografia do almirante Zheng He (imagem à direita), que viveu entre 1371-1433.
As sete viagens de Zheng He aos “Oceanos Ocidentais”, entre 1405 e 1433, são “um glorioso capítulo da diplomacia pacífica da China antiga” e da “história da navegação mundial”, afirma-se no livro, publicado em janeiro em Pequim, em edição bilingue (chinês e inglês).
A marinha chinesa “visitou então mais de trinta países e regiões” (da atual Indonésia até ao Quénia), percorrendo, no conjunto, “160 mil milhas marítimas” (cerca de 300 mil quilómetros).
Mas ao contrário do que aconteceria durante a “invasão colonial ocidental” - salienta a biografia, assinada por Wang Jienan - Zheng He atuava segundo “o sistema de cortesia do Império Celeste”.
Malaca, Ceilão, Calcutá, Ormuz e outros lugares que iriam entrar para a História dos Descobrimentos portugueses foram alguns dos portos onde atracaram as diferentes esquadras comandadas por Zheng He e que deverão ter impressionado as populações locais.
Desde a primeira missão, que zarpou da costa chinesa em 1405, com 62 navios, Zheng He navegava sempre com imponentes frotas.
O navio-almirante, por exemplo, tinha 119 metros de comprimento, nove mastros e 12 velas: “uma verdadeira obra-prima da construção naval chinesa”, diz Wang Jienan.
Recorrendo à linguagem diplomática atual, o autor da nova biografia afirma que as viagens de Zheng He “fortaleceram as amigáveis relações da China com as nações do Sueste Asiático, Ásia do Sul e Africa Oriental”.
“As viagens tinham como objetivos a abertura, o intercâmbio e o desenvolvimento” e proporcionaram “resultados mutuamente vantajosos”, afirma o historiador chinês.
Nascido no sul da China, ainda sob o domínio mongol, Zheng He era eunuco e “um devoto muçulmano e budista”.
Segundo a biografia, “contribuiu imenso para o desenvolvimento do Islão na Indonésia e Malásia” e “deu o pontapé de saída para a emigração chinesa em massa para o Sueste Asiático”.
Um autor japonês citado no livro, Terada Takanobu, afirma que “as viagens iniciadas na chamada Grande Era da Navegação perdem o brilho quando comparadas com as viagens de Zheng He”.
Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e Cristóvão Colombo são os únicos navegadores ocidentais mencionados na biografia: o primeiro dobrou o Cabo das Tormentas em 1488 e, dez anos mais tarde, o segundo descobriu o caminho marítimo (ocidental) para a Índia.
O livro não explica porquê, mas após a morte de Zheng He, a China virou as costas ao mar e isolou-se do mundo, que considerava “bárbaro” e “atrasado”.
E quase seis séculos mais tarde, quando a “ascensão pacífica” da China ao estatuto de grande potência está na ordem do dia, o “exemplo” do almirante Zheng He continua a ser uma boa história.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
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