quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Portugal ensina ao Luxemburgo políticas de imigração e acolhimento

Rosário Farmhouse é Alta Comissária para a Imigração e o Diálogo Intercultural e esteve no Luxemburgo esta semana a mostrar o que Portugal faz para acolher os estrangeiros e que já lhe valeu o título de país mais generoso do mundo no acolhimento aos imigrantes


É verdade que Portugal é um país pobre. É também verdade que não tem uma percentagem de imigração igual à do Luxemburgo. Ainda assim, pode ensinar aos luxemburgueses algumas boas práticas de acolhimento e integração de estrangeiros. Porquê? "Fomos sempre um país de emigração e tratamos os imigrantes como gostaríamos que os nossos emigrantes fossem tratados nos vários países onde estão", diz Rosário Farmhouse, Alta Comissária portuguesa para a Imigração e Diálogo Intercultural.

Rosário Farmhouse foi nomeada Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI) em Fevereiro de 2008 pelo primeiro-ministro de Portugal José Sócrates. Antes tinha estado oito anos a trabalhar no Serviço Jesuíta aos Refugiados de Portugal, do qual foi directora. Perita em questões de imigração, esta mulher licenciada em Antropologia Social esteve esta semana no Luxemburgo onde manteve contactos com a ministra da Educação, da Família e ainda teve tempo para conversar com a comissária europeia Vivianne Reding sobre a questão dos ciganos.

Terça-feira de manhã, esteve no OLAI (Office luxembourgeois de l'accueil et de l'intégration), para partilhar experiências.

Rosário Farmhouse garantiu ao CONTACTO que as ministras luxemburguesas se mostraram "muito interessadas" no trabalho desenvolvido pelo ACIDI.

Em 2009, Portugal foi considerado pela ONU como o país mais generoso do mundo no acolhimento aos imigrantes, o que acaba por ser o reconhecimento internacional da eficácia das políticas políticas portuguesas. E a explicação parece simples: "A nossa história é uma história de miscigenação de culturas. Nós sabemos muito bem o que é começar de novo noutro país, e aquilo que tentamos fazer é tratar os imigrantes como nós gostávamos que os nosso emigrantes fossem tratados noutros países. Esta é uma mensagem que passa muito bem junto da sociedade portuguesa. A nossa própria identidade é uma miscelânea de culturas e, apesar de termos algumas características próprias, fomos o povo que mais se miscigenou quando fomos para fora, que mais se misturou com os outros povos", afirma Rosário Farmhouse ao CONTACTO. Mas há mais: "Em Portugal, a matéria da integração dos imigrantes está na Presidência do Conselho de Ministros, o Ministério mais importante. Eu fui nomeada pelo primeiro-ministro, e isso faz a diferença em relação ao Luxemburgo, onde as matérias estão espalhadas pela ministra da Família e do Trabalho. É mais difícil implementar o que quer que seja quando esta matéria não está num só sítio. Porque estes assuntos são transversais. Acaba por ter mais peso político. E por fim o consenso político entre o PS e o PSD, que estão de acordo nas matérias de integração de imigrantes".

Rosário Farmhouse é muito cautelosa a retirar conclusões das políticas de integração luxemburguesas, mas ainda assim arrisca e aponta o dedo à abordagem feita na gestão da diversidade. " Aquilo que me pareceu que tem sido feito no Luxemburgo, na abordagem da gestão da diversidade, tem sido apenas uma abordagem multicultural, ou seja, as culturas existem, mas não coexistem, não interagem. Em Portugal, o que queremos é a gestão da diversidade no modelo intercultural, em que todos mudamos, também a sociedade de acolhimento. Temos que encontrar pontes, apenas o respeito não funciona. Tem de haver um crescer em conjunto".

E contínua: "O contacto com o outro não é nunca fácil. É assustador e nós todos resistimos. Não resulta pormos pessoas diferentes numa sala, sem qualquer trabalho pelo meio, e esperar que se entendam. Não resulta porque nós não temos o dom inato da diversidade. Somos diferentes. Temos maneiras de olhar para o relógio de maneiras diferentes? Temos. Mas todos temos coisas boas. Quando nós somos muito pressionados pela diversidade, e parece-me que é o que acontece aqui no Luxemburgo, fechamo-nos porque temos medo de perder a identidade. E é exactamente o contrário, mas isto é algo que tem de ser trabalhado desde pequenino".

VALORIZAR A CULTURA DE ORIGEM DA CRIANÇA

Apesar de em Portugal o ensino da língua Portuguesa depender do Ministério da Educação, o ACIDI tem desenvolvido um trabalho no sentido de saber lidar com a diversidade de culturas na sala de aula. "Nós, em Portugal, damos a oportunidade aos imigrantes de aprenderem na escola o Português como língua não materna. Mas temos um manancial de material que temos construído no ACIDI, para a educação intercultural, que vai desde a formação de professores até ao fornecimento de pequenas dicas que ensinam como lidar com a diferença na sala de aula, porque é um desafio, não é fácil. O segredo está em valorizar a cultura de origem das crianças e não as estigmatizar. E lá porque não se sabe falar a língua do país, a criança não pode ficar a um canto da sala. A questão é como agarrar nisto tudo e transformá-lo num ponto forte na sala de aula".

Rosário Farmhouse vai enviar para o Luxemburgo todos os materiais utilizados em Portugal. Num país onde os portugueses chegaram há mais de 40 anos, o insucesso escolar entre os alunos portugueses é muito elevado.

Texto e foto: Domingos Martins

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