segunda-feira, 6 de junho de 2011

Jornalista do Público, Ana Cristina Pereira, publica em livro 12 reportagens sobre mulheres e cocaína

A jornalista do Público Ana Cristina Pereira lança na quarta-feira o seu segundo livro de reportagens, “Viagens Brancas”, desta vez reunindo 12 histórias de mulheres ligadas à produção, tráfico e/ou consumo de cocaína.

“A rapariga que ia morrer enfiou umas calças de ganga azul por cima de umas cuecas brancas e amarelas. Eram quase quatro da madrugada da mais longa noite do ano — a noite de São João”, começa a primeira das 12 histórias, três das quais inéditas e nove adaptadas da versão original narrada no Público.

Em declarações à agência Lusa, a autora alerta que, ao contrário do que seria de esperar, nem todas as histórias acabam mal.

“A única morta é a do primeiro capítulo. Não há aqui finais, nem felizes nem infelizes. À exceção da primeira, a vida continua para todos”, referiu, notando que até o homicida de Sónia (nome fictício) continua vivo, a cumprir pena.

A última reportagem, salientou, é sobre uma mulher da classe média, Beatriz, que era estudante no Ensino Superior quando “caiu” na cocaína e “foi por aí abaixo”.

“Recuperou, aprendeu a ser mulher, a ser mãe, e hoje é responsável pelo serviço de acompanhamento a clientes de uma grande empresa”, realçou, admitindo que este poderia ser considerado um final feliz, mas não é ainda um final.

Oito anos depois de ter recuperado, Beatriz continua a ir às reuniões dos Narcóticos Anónimos, porque sabe que é uma doença que a vai acompanhar para sempre, referiu.

Ana Cristina Pereira assume “Viagens Brancas” como um livro de reportagens, mas reconhece que está escrito num registo que “vai um bocadinho além da reportagem comum”.

Algumas das histórias só foram possíveis relatar na sequência de um “jornalismo de imersão”, nomeadamente o acompanhamento de um casal que vive com outros toxicodependentes numa fábrica devoluta.

Apesar de não o classificar como livro sobre toxicodependência, a jornalista realça que através das 12 histórias se fica a saber “onde se cultiva a coca, como se transforma em cocaína, como chega à Europa, como se vende, quanto custa, quem consome e que tipo de respostas existem”.

“Este é um percurso de uma droga que está em expansão”, afirmou, salientando que o tráfico e consumo de cocaína está a crescer em Portugal e em toda a Europa.

A autora justificou que as histórias são só sobre mulheres porque “elas raramente aparecem, mas desempenham um papel particular” no negócio da cocaína, ao ponto de haver mães que traficam apenas para ajudar um filho ou para evitar que a filha se prostitua.

“Viagens Brancas” vai ser apresentado na quarta-feira no Centro de Respostas Integradas Porto Ocidental, pelo presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência, João Goulão, seguindo-se uma sessão no bar Casa de Ló.

“É uma forma de devolver o livro a dois dos seus territórios: um ambiente de festa e um ambiente de tratamento”, referiu.

Licenciada em Comunicação Social pela Universidade do Minho, Ana Cristina Pereira é jornalista do Público desde 1999 e há dois anos publicou “Meninos de Ninguém”, livro de reportagens sobre crianças e jovens desprotegidos e/ou delinquentes.

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