quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Luxemburgo: Festa de Natal para Sem-Abrigo junta 300 necessitados, entre eles 170 portugueses e lusófonos

Em 2009, cerca de 170 portugueses e lusófonos viviam na rua no Luxemburgo e recorreram à associação de apoio aos sem-abrigo "Stëmm vun der Strooss" (Voz da Rua).

Esta foi uma das revelações feitas por Alexandra Oxacelay, responsável pela gestão da associação, durante a Festa de Natal da "Stëmm", que teve lugar a 21 de Dezembro no Centro Cultural de Bonnevoie, e na qual participaram mais de 300 pessoas necessitadas e sem-abrigo de muitas nacionalidades.

"Eu trabalhava numa empresa de mudanças e ocupei este emprego por muitos anos. Circunstâncias da vida fizeram que perdi o meu emprego e com os meus 53 anos actuais, poucos patrões me querem. Estou feliz por ter encontrado um emprego no 'Schweessdrëpps'. Permite-me pagar um estúdio que compartilho com minha filha de 21 anos, igualmente desempregada," conta Carlos ao CONTACTO.

Para Solange, 50 anos, de origem angolana, que vive no Luxemburgo há 30 anos, e trabalha na lavandaria social da Stëmm vun der Strooss, também trouxe boas coisas: "O trabalho muda-nos do quotidiano e faz-nos ver outras coisas", admite ela ao CONTACTO.

O burgomestre da cidade do Luxemburgo, Xavier Bettel (ao centro), fez questão de participar nesta festa
A crise mundial e a portuguesa em particular também trouxeram novas caras á associação. Elisabete, uma mãe solteira de 40 anos, deixou Portugal após a falência da empresa que tinha tentado lançar depois de ter trabalhado muitos anos como empregada numa multinacional do ramo da moda. Chegou há um ano ao Luxemburgo e, apesar de sua educação superior, confia que "não é fácil encontrar um emprego", porque não fala nenhuma das línguas do país. "É difícil, mas eu não perco a esperança que um dia a situação venha a melhorar. De qualquer maneira, a emigração era a única hipótese que me restava", conta ao CONTACTO.

Todos os anos aumenta o número de pessoas que vêm a esta festa, assim como as que utilizam os diferentes serviços da "Stëmm", tanto na capital como em Esch/Alzette. Ponto de encontro com distribuição de refeições – foram distribuídas cerca de 50 mil em 2010 –, distribuição de roupas, conselhos sociais, agência imobiliária social, lavandaria, são estas as diferentes maneiras que a associação utiliza para ajudar os mais necessitados.

"São centenas de pessoas que usufruem dos serviços da associação, mas cada pessoa e cada caso é diferente", afirma Alexandra Oxacelay. E por detrás de cada caso, muitas vezes, escondem-se tragédias humanas e sociais.

Por exemplo, Jasmine, que aos 21 anos já tem dois filhos, actualmente está grávida de gémeos, e enfrenta dificuldades para sustentar a família. Quando lhe perguntamos sobre o pai das crianças, responde com um encolher de ombros: "Ele não quer saber. Felizmente tenho a minha família, que também está aqui e me apoia".

Fundada em 1995, a "Stëmm vun der Strooss" trabalha a favor da integração social e profissional de pessoas desfavorecidas.

É neste âmbito que há já 13 anos organiza esta Festa de Natal com uma refeição festiva, música e brindes para os mais pobres. No dia 21, pouco antes do meio-dia já eram mais de uma dezena as pessoas que esperavam frente à portas do Centro Cultural de Bonnevoie. No interior, uma quinzena de escuteiros tinham preparado a refeição: sopa de galinha, prato do pescador, guisado de veado e tronco natalício (bûche) para a sobremesa.

"Todo este trabalho seria impossível sem a ajuda dos voluntários. Felizmente, todos os anos, respondem ao nosso convite e vêm para ajudar ou organizam os presentes que oferecemos no final da tarde", diz Alexandra Oxacelay.

Os convidados são rapidamente dirigidos para as mesas e servidos com um aperitivo sem álcool, pelos 40 voluntários vindos do Rotary Club de Bascharage, do Banco do Luxemburgo, do Bank of New York e da Fundação Thierry Van Werveke.

Este ano, o evento contou com um convidado de honra: o novo burgomestre da cidade do Luxemburgo, Xavier Bettel, que veio partilhar a refeição com os mais necessitados.

Depressa os lugares previstos não chegam e mesas devem ser adicionadas. Mas quer sejam sem-abrigo, desempregados, beneficiários do Rendimento Mínimo Garantido (RMG), ex-reclusos, requerentes de asilo, imigrantes ou pessoas com uma doença mental e/ou dependentes de drogas ou álcool, todos se mostzram felizes por poder partilhar um momento de felicidade que se repete ano após ano.

Texto e fotos: Carlos de Jesus

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