O sector da construção no Luxemburgo sofreu novo abalo. A Mangen Construções S.A. declarou falência na terça-feira, deixando 225 trabalhadores no desemprego.
Oitenta por cento são portugueses.
Luís Carlos é um jovem português na casa dos vinte anos. Chegou ao Luxemburgo há ano e meio e trouxe consigo a esperança de um futuro melhor para si e a namorada. Com a falência da Mangen, viu ontem comprometidas as suas esperanças.
"Estou aqui há um ano e meio e vim com a esperança de ter um futuro, como muitos que estão aqui. Com esta falência, já nem sei ao certo o que me falta receber. Recebi uns 500 euros e depois mais algum e depois comecei a perder a conta. Vejo agora um futuro muito curto, mais difícil.”
Para Luís Carlos e colegas de trabalho, a revolta está à flor da pele, um mês depois de terem sabido que a empresa ia declarar falência.
"Este momento que estamos a viver é de completa revolta. A gente já desconfiava, mas só há cerca de um mês é que soubemos. Não achamos justo não nos terem dado uma palavra antes, mas ainda assim tenho a esperança de entrar noutra empresa”, diz Luis Carlos.
Para já, Luís quer ficar por cá, até porque não vê hipótese de encontrar trabalho em Portugal. "Vou ficar por aqui porque em Portugal não há futuro nenhum."
Luís Carlos é um jovem português na casa dos vinte anos. Chegou ao Luxemburgo há ano e meio e trouxe consigo a esperança de um futuro melhor para si e a namorada. Com a falência da Mangen, viu ontem comprometidas as suas esperanças.
"Estou aqui há um ano e meio e vim com a esperança de ter um futuro, como muitos que estão aqui. Com esta falência, já nem sei ao certo o que me falta receber. Recebi uns 500 euros e depois mais algum e depois comecei a perder a conta. Vejo agora um futuro muito curto, mais difícil.”
Para Luís Carlos e colegas de trabalho, a revolta está à flor da pele, um mês depois de terem sabido que a empresa ia declarar falência.
"Este momento que estamos a viver é de completa revolta. A gente já desconfiava, mas só há cerca de um mês é que soubemos. Não achamos justo não nos terem dado uma palavra antes, mas ainda assim tenho a esperança de entrar noutra empresa”, diz Luis Carlos.
Para já, Luís quer ficar por cá, até porque não vê hipótese de encontrar trabalho em Portugal. "Vou ficar por aqui porque em Portugal não há futuro nenhum."
SINDICATOS ACUSAM EMPRESA DE MÁ GESTÃO
O grupo Mangen, com sede em Steinfort, entregou ontem no tribunal do Luxemburgo o pedido de falência. São 225 trabalhadores que vão para o desemprego. Oitenta por cento falam português.
Uma falência que deixa os trabalhadores e os sindicatos perplexos. A empresa ainda tinha em carteira encomendas no valor de 30 milhões de euros, e os sindicatos acusam a empresa de má gestão, tal como no caso da Soccimo, que foi à falência em Julho do ano passado.
"Na Mangen o problema é de gestão. Não havia dinheiro em caixa. A linha de crédito baixou e os clientes não estavam a pagar. Isso levou a atrasos nos pagamentos. Os trabalhadores não receberam ainda o prémio final de 2011 e estão com parte do salário de Janeiro em falta. Na Socimmo, o problema também foi de gestão e as pessoas têm de perceber que quando tudo parece bem e se gere mal, as coisas acabam mal", explica Jean-Luc de Matteis, do sindicato OGB-L.
"Muitos dos clientes da empresa são comunas, que devem mais de um milhão de euros. A direcção viu-se sem dinheiro e com dívidas que ultrapassam os 5 milhões de euros, e daí a falência. Há alguns meses que estivemos a discutir com a empresa e os Ministérios do Trabalho e da Economia para encontrar soluções. Os trabalhadores da Mangen vão receber 10.500 euros após a declaração de falência, para além do subsídio de desemprego. Eu pergunto-me se o governo não teria interesse financeiro em prestar assistência à Mangen desde o início. Com encomendas no valor de 30 milhões de euros, talvez bastasse a garantia de 2 milhões de euros para saldar as contas em atraso, mas os Ministérios em causa não fizeram nada para ajudar a empresa. É mais um dia negro para a indústria da construção", lamenta Jean-Paul Fischer, do LCGB.
Fonte do Ministério do Trabalho garantiu de forma lacónica ao CONTACTO que o Ministério fez tudo para tentar salvar a empresa.
"Tentámos fazer tudo dentro das nossas possibilidades, juntamente com o Ministério da Economia, e nada foi conseguido. Se a empresa declara falência é algo que já não nos cabe decidir.”
Uma versão contestada pelos trabalhadores. "Se o governo quisesse salvar a Mangen, não precisava de grandes somas. Era só dar confiança aos bancos, mas não o fizeram", diz Manuel Mendes (nome fictício a pedido do entrevistado), que trabalhava na Mangen há 26 anos.
O grupo Mangen, com sede em Steinfort, entregou ontem no tribunal do Luxemburgo o pedido de falência. São 225 trabalhadores que vão para o desemprego. Oitenta por cento falam português.
Uma falência que deixa os trabalhadores e os sindicatos perplexos. A empresa ainda tinha em carteira encomendas no valor de 30 milhões de euros, e os sindicatos acusam a empresa de má gestão, tal como no caso da Soccimo, que foi à falência em Julho do ano passado.
"Na Mangen o problema é de gestão. Não havia dinheiro em caixa. A linha de crédito baixou e os clientes não estavam a pagar. Isso levou a atrasos nos pagamentos. Os trabalhadores não receberam ainda o prémio final de 2011 e estão com parte do salário de Janeiro em falta. Na Socimmo, o problema também foi de gestão e as pessoas têm de perceber que quando tudo parece bem e se gere mal, as coisas acabam mal", explica Jean-Luc de Matteis, do sindicato OGB-L.
"Muitos dos clientes da empresa são comunas, que devem mais de um milhão de euros. A direcção viu-se sem dinheiro e com dívidas que ultrapassam os 5 milhões de euros, e daí a falência. Há alguns meses que estivemos a discutir com a empresa e os Ministérios do Trabalho e da Economia para encontrar soluções. Os trabalhadores da Mangen vão receber 10.500 euros após a declaração de falência, para além do subsídio de desemprego. Eu pergunto-me se o governo não teria interesse financeiro em prestar assistência à Mangen desde o início. Com encomendas no valor de 30 milhões de euros, talvez bastasse a garantia de 2 milhões de euros para saldar as contas em atraso, mas os Ministérios em causa não fizeram nada para ajudar a empresa. É mais um dia negro para a indústria da construção", lamenta Jean-Paul Fischer, do LCGB.
Fonte do Ministério do Trabalho garantiu de forma lacónica ao CONTACTO que o Ministério fez tudo para tentar salvar a empresa.
"Tentámos fazer tudo dentro das nossas possibilidades, juntamente com o Ministério da Economia, e nada foi conseguido. Se a empresa declara falência é algo que já não nos cabe decidir.”
Uma versão contestada pelos trabalhadores. "Se o governo quisesse salvar a Mangen, não precisava de grandes somas. Era só dar confiança aos bancos, mas não o fizeram", diz Manuel Mendes (nome fictício a pedido do entrevistado), que trabalhava na Mangen há 26 anos.
UMA VIDA A TRABALHAR NA EMPRESA
"Vim para o Luxemburgo em Fevereiro de 1979 com o meu pai, que também era emigrante. Tinha 14 anos e a antiga quarta classe. Em Junho do mesmo ano comecei a trabalhar na construção, mas já levava dois anos a trabalhar em Portugal. Na altura estava a começar a ser obrigatório fazer o 6o ano, mas eu não o fiz e ninguém me obrigou a fazê-lo. Por isso comecei a trabalhar jovem na companhia do meu pai e não foi muito difícil adaptar-me", conta Manuel Mendes.
Em 1986, Manuel entra para o grupo Mangen para não mais deixar a empresa.
"Nunca tive problemas de trabalho. É a primeira falência que acontece na minha vida de trabalhador e espero que seja a última", desabafa.
Manuel Mendes vai a caminho dos 50 anos. Acredita que vai conseguir trabalho, mas quando fala dos colegas mais desprotegidos sente-se-lhe a voz embargada.
"Quando se entra numa situação delicada como esta, de perder o trabalho e ficar em situação financeira difícil, há pouco por que lutar e as coisas podem ficar difíceis. Os mais jovens vão ser tocados mais no aspecto familiar e se têm cá alguém que lhes possa dar uma ajuda moral, onde se sintam acolhidos e apoiados, isso é o mais importante. Reconheço que para muita gente isso não vai ser fácil, sobretudo quando as pessoas estão sozinhas e não têm para quem se virar. Refiro-me aos jovens e aos que têm chegado recentemente de Portugal", diz.
Apesar da precariedade no sector, regressar a Portugal não é alternativa para estes recém-chegados, diz Manuel Mendes.
"Regressar a Portugal? Alguns podem ter vontade de regressar, mas pergunto-me com que expectativa. O que vão fazer? O que lá vão encontrar? Mal por mal, e tendo em conta algumas regalias que podem ter aqui, creio que as pessoas vão optar por ficar por cá, a não ser que estejam numa situação muito complicada e não tenham alojamento ou estejam com grandes dificuldades financeiras."
"Vim para o Luxemburgo em Fevereiro de 1979 com o meu pai, que também era emigrante. Tinha 14 anos e a antiga quarta classe. Em Junho do mesmo ano comecei a trabalhar na construção, mas já levava dois anos a trabalhar em Portugal. Na altura estava a começar a ser obrigatório fazer o 6o ano, mas eu não o fiz e ninguém me obrigou a fazê-lo. Por isso comecei a trabalhar jovem na companhia do meu pai e não foi muito difícil adaptar-me", conta Manuel Mendes.
Em 1986, Manuel entra para o grupo Mangen para não mais deixar a empresa.
"Nunca tive problemas de trabalho. É a primeira falência que acontece na minha vida de trabalhador e espero que seja a última", desabafa.
Manuel Mendes vai a caminho dos 50 anos. Acredita que vai conseguir trabalho, mas quando fala dos colegas mais desprotegidos sente-se-lhe a voz embargada.
"Quando se entra numa situação delicada como esta, de perder o trabalho e ficar em situação financeira difícil, há pouco por que lutar e as coisas podem ficar difíceis. Os mais jovens vão ser tocados mais no aspecto familiar e se têm cá alguém que lhes possa dar uma ajuda moral, onde se sintam acolhidos e apoiados, isso é o mais importante. Reconheço que para muita gente isso não vai ser fácil, sobretudo quando as pessoas estão sozinhas e não têm para quem se virar. Refiro-me aos jovens e aos que têm chegado recentemente de Portugal", diz.
Apesar da precariedade no sector, regressar a Portugal não é alternativa para estes recém-chegados, diz Manuel Mendes.
"Regressar a Portugal? Alguns podem ter vontade de regressar, mas pergunto-me com que expectativa. O que vão fazer? O que lá vão encontrar? Mal por mal, e tendo em conta algumas regalias que podem ter aqui, creio que as pessoas vão optar por ficar por cá, a não ser que estejam numa situação muito complicada e não tenham alojamento ou estejam com grandes dificuldades financeiras."
"HÁ PORTUGUESES A DORMIR EM CARROS"
Apesar de a Mangen não ter casos de trabalhadores a viver nestas condições, a OGB-L tem conhecimento de portugueses que "dormem nos carros e nas obras".
"A nova imigração vem com os olhos fechados e confrontamo-nos com muitos portugueses com contrato de curta duração que não têm sítio onde ficar, dormindo dentro dos carros ou nas obras. Muitos ficam pelo caminho porque as coisas não são como pensam. Também há imigrantes qualificados a lavar loiça porque só o português e o inglês não chegam. Se tivessem o francês era mais fácil”, denuncia o responsável pelo departamento da imigração da OGB-L, Carlos Pereira.
No Luxemburgo, trinta por cento dos desempregados são portugueses. Destes, noventa por cento só falam português, diz Carlos Pereira.
O aumento do desemprego e a nova vaga de imigração já levaram a OGB-L a tomar medidas. A central sindical está a ultimar uma brochura informativa para portugueses que pensem emigrar para o Luxemburgo, intitulada "Emigração de Olhos Abertos”, com o apoio do secretário de Estado das Comunidades. A ideia já foi experimentada em Cabo Verde. O objectivo é explicar aos emigrantes a situação social do Luxemburgo, o custo de vida, alojamento, instituições onde devem dirigir-se para esclarecer questões do direito do trabalho, entre outras informações.
Na Mangen, que vai continuar de portas abertas até que o Tribunal declare a falência da empresa, os trabalhadores estão preocupados. Há quem tenha lá passado toda a vida e tenha pena de ver a empresa acabar. Jerónimo Loureiro, que trabalhava na empresa há 32 anos, diz-se triste.
"No dia 15 de Abril faz 32 anos que aqui trabalho. Vim à Mangen tratar de uns papéis para a reforma e acho mal fecharem as portas a uma empresa destas, que era uma grande empresa"
Com 63 anos e a reforma no horizonte, Jerónimo Loureiro lamenta o adeus.
"Vai ser um adeus triste, porque preferia reformar-me e deixar a empresa ainda a trabalhar. É uma pena".
Texto e fotos: Henrique de Burgo
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