Quase 300 pessoas foram encontradas mortas em casa em Lisboa nos últimos quatro anos, a maioria idosas. Este ano o número já alcança uma dezena só na capital portuguesa. Em Portugal, durante o mês de Janeiro, foram encontradas mortas 18 pessoas em casa.
São histórias de arrepiar. A última aconteceu na semana passada, quando duas irmãs de 74 e 80 anos foram encontradas mortas na casa onde viviam, na Travessa do Convento de Jesus, freguesia das Mercês, em Lisboa. Segundo fonte da PSP, a irmã mais nova, que tratava da mais velha, terá morrido primeiro, vítima de cancro.
A octogenária, acamada, faleceu depois por falta dos cuidados que a irmã lhe prestava. Um vizinho estranhou a ausência das irmãs e avisou agentes da PSP que passavam ocasionalmente junto ao prédio onde moravam. Os corpos foram encontrados em adiantado estado de decomposição. A PSP estima que as duas idosas estivessem mortas há mais de um mês.
Só este ano, o Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa descobriu dez pessoas mortas em casa, um número que sobe para 18 no resto do país. O total de pessoas encontradas mortas em casa na capital portuguesa, desde 2008, é de 289.
De acordo com os dados da Câmara Municipal de Lisboa, no ano passado os sapadores depararam-se com 79 pessoas já cadáveres, num total de 1.511 operações de abertura de portas com socorro. O vereador da Protecção Civil, Manuel Brito, disse à Lusa que a maioria destes casos são pessoas idosas.
Nos últimos quatro anos, 2010 é o que apresenta o menor número destes casos: foram encontradas 60 pessoas mortas em casa. É também em 2010 que surge o único mês – Março – em quatro anos sem identificação de cadáveres em interiores das casas de Lisboa. O número voltou a subir em 2009, quando os bombeiros descobriram 71 pessoas sem vida no interior das suas habitações. Os sapadores foram chamados 1.365 vezes. Em mais de 300 casos, as pessoas estavam em situações de risco.
Em 2008, foram encontradas 69 pessoas "já cadáveres" no interior de suas casas. É neste ano que se regista também o mês, nestes quatro anos, com mais casos deste tipo: em Dezembro os bombeiros depararam-se com 14 pessoas mortas em casa.
Dezembro e Janeiro são, nestes quatro anos, os meses com o maior número destas ocorrências, com a identificação de um total de 39 e 34 pessoas mortas em casa, respectivamente. Julho é o mês com menos registos, tendo os sapadores encontrado 16 pessoas sem vida em casa. Nestes quatro anos, o Regimento de Sapadores Bombeiros teve 5.763 ocorrências de abertura de portas com socorro, 4.101 com "pessoas carecendo de auxílio no interior" e 1.373 com pessoas "noutras situações de risco", que passam por situações como o fogão acesso ou o esquentador ligado.
Idosos que vivem sozinhos precisam de mais apoio: Família e vizinhos têm falhado
O presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade pediu mais atenção aos idosos que vivem sozinhos, criando mecanismos sociais que vigiem o seu estado, seja através da família, vizinhos ou estratégias de "apadrinhamento" por jovens.
Desde o início do ano foram já encontradas 18 pessoas mortas em casa, quatro delas só no passado sábado, duas em Lisboa, uma em Viseu e outra em Espinho.
Para Lino Maia, sempre que é descoberto um idoso morto em casa é porque houve algo que falhou no apoio social e que tem de mudar: "É importante que os nossos idosos mereçam maior atenção por parte de todos, da respectiva família, que lhes deve muito, e de toda a comunidade que tem deveres para com eles".
Dois idosos, um homem e uma mulher, foram encontrados sábado mortos pelas autoridades nas respectivas casas, em locais distintos da cidade de Lisboa, já em estado de decomposição, revelou à agência Lusa fonte da PSP. No caso da mulher, uma idosa de 87 anos, o delegado de saúde confirmou que já estaria morta "há cerca de duas semanas". O homem, por seu lado, teria 63 anos e foi encontrado em "estado muito avançado de decomposição”, calculando-se que estivesse morto há cerca de um mês.
Em Espinho, a polícia encontrou em casa o cadáver de um idoso de 79 anos, tendo os vizinhos dito que já não o viam desde o Natal.
Em Viseu foi encontrado o corpo de um homem de 64 anos que estava desaparecido já há vários dias, depois de os vizinhos terem dado o alerta à polícia. "São casos que se vão somando a outros casos e que nos devem fazer reflectir e aprofundar algumas iniciativas no sentido de impedir que isto se multiplique”, defendeu o presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNI) em declarações à Lusa.
Na opinião do padre Lino Maia, quando estes casos acontecem "há sempre algo que falha, falha a família, falha a comunidade, a vizinhança, falham todos".
Estes casos devem fazer com que se invista mais nas respostas sociais e no alerta que deve ser dado às famílias "para que assumam sempre as suas responsabilidades”. Sugeriu, a propósito, que os vizinhos funcionem como primeiro alerta, mas também outro tipo de apostas.
"Uma espécie de apadrinhamento pelos jovens a idosos, particularmente aqueles que estão sós, ajudando-os a enfrentar e a vencer a sua solidão, a ter mais entusiasmo na vida. Os jovens também beneficiarão porque o idoso é sempre uma espécie de biblioteca de conhecimento, de serenidade e de experiência”, apontou.
Lino Maia compreende que os actuais recursos financeiros são limitados, mas defende que não é necessário mais investimentos, mas antes que sejam melhor rentabilizadas as respostas já existentes.
O caso das duas irmãs que morreram sozinhas em casa trouxe o tema da solidão dos idosos de novo para as primeiras páginas. No ano passado, foi o caso de Augusta Martinho que chocou o país. O cadáver da idosa, de 86 anos, foi encontrado nove anos depois de ter morrido no chão da cozinha da sua casa, em Sintra.
Fotos: LUSA
São histórias de arrepiar. A última aconteceu na semana passada, quando duas irmãs de 74 e 80 anos foram encontradas mortas na casa onde viviam, na Travessa do Convento de Jesus, freguesia das Mercês, em Lisboa. Segundo fonte da PSP, a irmã mais nova, que tratava da mais velha, terá morrido primeiro, vítima de cancro.
A octogenária, acamada, faleceu depois por falta dos cuidados que a irmã lhe prestava. Um vizinho estranhou a ausência das irmãs e avisou agentes da PSP que passavam ocasionalmente junto ao prédio onde moravam. Os corpos foram encontrados em adiantado estado de decomposição. A PSP estima que as duas idosas estivessem mortas há mais de um mês.
Só este ano, o Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa descobriu dez pessoas mortas em casa, um número que sobe para 18 no resto do país. O total de pessoas encontradas mortas em casa na capital portuguesa, desde 2008, é de 289.
De acordo com os dados da Câmara Municipal de Lisboa, no ano passado os sapadores depararam-se com 79 pessoas já cadáveres, num total de 1.511 operações de abertura de portas com socorro. O vereador da Protecção Civil, Manuel Brito, disse à Lusa que a maioria destes casos são pessoas idosas.
Nos últimos quatro anos, 2010 é o que apresenta o menor número destes casos: foram encontradas 60 pessoas mortas em casa. É também em 2010 que surge o único mês – Março – em quatro anos sem identificação de cadáveres em interiores das casas de Lisboa. O número voltou a subir em 2009, quando os bombeiros descobriram 71 pessoas sem vida no interior das suas habitações. Os sapadores foram chamados 1.365 vezes. Em mais de 300 casos, as pessoas estavam em situações de risco.
Em 2008, foram encontradas 69 pessoas "já cadáveres" no interior de suas casas. É neste ano que se regista também o mês, nestes quatro anos, com mais casos deste tipo: em Dezembro os bombeiros depararam-se com 14 pessoas mortas em casa.
Dezembro e Janeiro são, nestes quatro anos, os meses com o maior número destas ocorrências, com a identificação de um total de 39 e 34 pessoas mortas em casa, respectivamente. Julho é o mês com menos registos, tendo os sapadores encontrado 16 pessoas sem vida em casa. Nestes quatro anos, o Regimento de Sapadores Bombeiros teve 5.763 ocorrências de abertura de portas com socorro, 4.101 com "pessoas carecendo de auxílio no interior" e 1.373 com pessoas "noutras situações de risco", que passam por situações como o fogão acesso ou o esquentador ligado.
Idosos que vivem sozinhos precisam de mais apoio: Família e vizinhos têm falhado
O presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade pediu mais atenção aos idosos que vivem sozinhos, criando mecanismos sociais que vigiem o seu estado, seja através da família, vizinhos ou estratégias de "apadrinhamento" por jovens.
Desde o início do ano foram já encontradas 18 pessoas mortas em casa, quatro delas só no passado sábado, duas em Lisboa, uma em Viseu e outra em Espinho.
Para Lino Maia, sempre que é descoberto um idoso morto em casa é porque houve algo que falhou no apoio social e que tem de mudar: "É importante que os nossos idosos mereçam maior atenção por parte de todos, da respectiva família, que lhes deve muito, e de toda a comunidade que tem deveres para com eles".
Dois idosos, um homem e uma mulher, foram encontrados sábado mortos pelas autoridades nas respectivas casas, em locais distintos da cidade de Lisboa, já em estado de decomposição, revelou à agência Lusa fonte da PSP. No caso da mulher, uma idosa de 87 anos, o delegado de saúde confirmou que já estaria morta "há cerca de duas semanas". O homem, por seu lado, teria 63 anos e foi encontrado em "estado muito avançado de decomposição”, calculando-se que estivesse morto há cerca de um mês.
Em Espinho, a polícia encontrou em casa o cadáver de um idoso de 79 anos, tendo os vizinhos dito que já não o viam desde o Natal.
Em Viseu foi encontrado o corpo de um homem de 64 anos que estava desaparecido já há vários dias, depois de os vizinhos terem dado o alerta à polícia. "São casos que se vão somando a outros casos e que nos devem fazer reflectir e aprofundar algumas iniciativas no sentido de impedir que isto se multiplique”, defendeu o presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNI) em declarações à Lusa.
Na opinião do padre Lino Maia, quando estes casos acontecem "há sempre algo que falha, falha a família, falha a comunidade, a vizinhança, falham todos".
Estes casos devem fazer com que se invista mais nas respostas sociais e no alerta que deve ser dado às famílias "para que assumam sempre as suas responsabilidades”. Sugeriu, a propósito, que os vizinhos funcionem como primeiro alerta, mas também outro tipo de apostas.
"Uma espécie de apadrinhamento pelos jovens a idosos, particularmente aqueles que estão sós, ajudando-os a enfrentar e a vencer a sua solidão, a ter mais entusiasmo na vida. Os jovens também beneficiarão porque o idoso é sempre uma espécie de biblioteca de conhecimento, de serenidade e de experiência”, apontou.
Lino Maia compreende que os actuais recursos financeiros são limitados, mas defende que não é necessário mais investimentos, mas antes que sejam melhor rentabilizadas as respostas já existentes.
O caso das duas irmãs que morreram sozinhas em casa trouxe o tema da solidão dos idosos de novo para as primeiras páginas. No ano passado, foi o caso de Augusta Martinho que chocou o país. O cadáver da idosa, de 86 anos, foi encontrado nove anos depois de ter morrido no chão da cozinha da sua casa, em Sintra.
Fotos: LUSA
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