quarta-feira, 6 de junho de 2012

Luxemburgo: Ex-pedófilo cria associação para regenerar pedófilos

O terapeuta Robertz Schuster (à esqa) ajudou um ex-pedófilo
que está na prisão. Daí surgiu a ideia de criar uma associação
para ajudar pessoas com este distúrbio. O psicólogo
Sébastien Hay (à dta) é o vice-presidente da associação
Um homem - chamemos-lhe "Jean" (nome fictício, a pedido do entrevistado) - foi vítima de abusos sexuais entre os treze e os dezassete anos de idade. Aos 21, a mulher com quem vivia acusou-o de molestar sexualmente o seu filho. Foi condenado a 14 anos de pena de prisão efectiva. Hoje, com 36 anos de idade e a um ano de sair de Schrassig, diz que está praticamente curado deste "distúrbio psíquico".

"Segundo os relatórios médicos, neste momento e no meu caso o risco de reincidência para os próximos 15 anos situa-se entre os 23 e os 35 %. É um valor muito baixo. Os resultados mostram que a terapia a que eu fui submetido pode ajudar também os outros", diz Jean, ao telefone com o CONTACTO da cadeia de Schrassig.

E assim nasceu a ideia de criar uma associação que possa ajudar pessoas que têm tendências pedófilas, a Associação Luxemburguesa de Informação e de Prevenção da Pedofilia. Jean é o secretário, e o terapeuta que o ajudou na prisão, Robertz Schuster, é o presidente.

"Eu conheci o terapeuta Schuster aqui na prisão e quando ele soube que eu estava a cumprir pena por pedofilia, ele ofereceu-se para me ajudar. A técnica que ele utiliza é a hipnoterapia, e efectivamente conseguiu comigo bons resultados. Eu pedi autorização à Procuradoria-Geral do Luxemburgo para que deixasse o terapeuta entrar em Schrassig e fazer as sessões. Ao fim de 12 encontros, terminámos o tratamento", conta Jean ao CONTACTO.

Robertz Schuster confirma a história. No final da conferência de imprensa de apresentação da organização, que decorreu na passada sexta-feira em Berdorf, o hipnoterapeuta confessou ao CONTACTO que ficou surpreendido com os resultados da terapia aplicada a Jean.

"Nós queremos ajudar as pessoas que sentem este tipo de pulsão sexual. A pedofilia e a efebofilia é um tipo de distúrbio que deve ser atacado antes da prática do crime. Nós queremos sobretudo apostar na prevenção, porque depois, na prisão, não fazem nada para ajudar estas pessoas".

Jean garante que para estes casos não há cura, mas é possível aprender a gerir estes comportamentos. "Para mim, é muito importante que os agressores possam ser sujeitos a uma terapia para que se reduza a possibilidade de reincidência. Caso contrário, saem daqui e voltam a praticar o mesmo crime".

E, Jean, dá um exemplo: "Um homem esteve preso em Givenich durante dez anos, por causa de abusos sexuais de menores. Quando saiu, voltou a fazer o mesmo, e agora é meu companheiro aqui em Schrassig. Há também dois portugueses que estão aqui a cumprir pena por causa da pedofilia. Um violou uma sobrinha; o outro, violou uma menina de três anos. Ambos dizem que são inocentes, mas é sempre assim: nunca reconhecem os actos cometidos. Havia ainda um terceiro português que foi libertado há pouco tempo. Violou uma menina de 12 anos que ficou grávida e teve o bebé. Foi libertado a meio da pena e extraditado para Portugal. Nos próximos cinco anos não pode entrar no Luxemburgo. São casos como estes que nós queremos ajudar. Prevenir, nestes casos, é o mais importante", diz Jean.

Texto e foto: Domingos Martins

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