sábado, 18 de julho de 2009

Portugal: Eduardo Lourenço defende que "socialismo tem de ser cultura e não apenas visão política"

Eduardo Lourenço, professor universitário e ensaísta, advertiu sexta-feira que o socialismo tem de caracterizar-se como uma cultura e não pode limitar-se a uma dimensão política, uma leitura sociológica ou histórica.

"Se o socialismo não for uma cultura, não é aquilo que devia ser. Todos os socialistas do século XIX foram homens de cultura", frisou Eduardo Lourenço, num discurso que proferiu no Centro Nacional de Cultura, durante a sessão de aniversário dos 20 anos da revista Finisterra, por si dirigida (propriedade da nova Fundação Respublica, na órbita do PS)

"O socialismo também não pode limitar-se a ter uma leitura histórica e sociológica. Tem de ser uma cultura", salientou, depois de fazer uma série de referência às influências da social-democracia germânica e do socialismo francês na formação do PS fundado em 1973.

A revista Finisterra

Director da Finisterra desde a sua fundação em 1989, Eduardo Lourenço fez uma análise muito crítica das duas décadas de percurso da revista, dizendo mesmo que passou por períodos de "semi-obscurantismo" e que num mundo tão mediático como o actual "teve um problema de publicidade".

"Tal como eu como director, também muitos dos membros deste Conselho Editorial [da revista] têm estado ausentes. Se participassem, teríamos seguramente uma das melhores revistas do país", disse.

Do Conselho Editorial da revista fazem parte nomes como o ex-candidato presidencial Manuel Alegre e a vereadora da Câmara de Lisboa Helena Roseta.

"Tendo o PS maioria neste país, esta revista deveria ter mais leitores. Não sou elitista mas um dia ainda vão descobrir que é chique ler a Finisterra", comentou ainda Eduardo Lourenço.

Antes, Augusto Santos Silva referiu que as edições da revista Finisterra entre 1989 e 2007 vão estar até ao final do ano disponíveis em suporte electrónico e vincou que o objectivo da Fundação Respublica, designadamente através da Finisterra, "é promover e alargar o debate de ideias".

Guilherme de Oliveira Martins, colaborador desde o primeiro número da Finisterra, discordou da análise crítica feita por Eduardo Lourenço em relação às duas décadas da revista, sustentando, pelo contrário, que foi "uma sementeira de ideias".

Segundo o ex-ministro dos governos de António Guterres, a Finisterra foi pioneira na defesa de perspectivas como o Estado regulador (em contrapondo ao Estado mínimo), no apoio a uma perspectiva de "competitividade económica sem teologia de mercado" (que disse estar depois na génese da Estratégia de Lisboa da União Europeia) e na defesa dos valores da "liberdade igual e da igualdade livre"

"Sem ideias, sem reflexão, sem debate não há política que valha a pena. A Finisterra nunca foi uma revista neutral, porque na política não pode haver neutralidade", advogou o presidente do Tribunal de Contas.

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