José Sócrates preferiu jogar pelo seguro e apresentou um governo que mantém as figuras com mais influência política, nalguns casos, com troca de pastas. As novidades são poucas, mas boas. Para a Economia, vai António Mendonça, um prestigiado académico, e para o Emprego, Helena André, uma antiga dirigente do Federação do Benelux, do Partido Socialista.
António Mendonça presidiu, até há pouco, ao Conselho Directivo da Instituto Superior de Economia e Gestão, onde é professor catedrático. Tem 55 anos e desde os seus primeiros tempo como estudante daquele instituto foi considerado um aluno brilhante. Militou durante muitos anos no PCP, que abandonou no final dos anos 80. Mendonça é um defensor do investimento público e, por essa razão, é de crer que o TGV e o novo aeroporto de Lisboa são obras que ele vai tentar concretizar. É considerado também um dos mais notáveis adversários da corrente neo-liberal. Aliás, o ISEG foi sempre a escola de Economia que se opôs à marcada tendência neo-liberal das Faculdades de Economia da Universidade Nova e da Universidade Católica. A sua gestão à frente do ISEG foi largamente elogiada, sendo responsável pela ampliação e modernização daquela escola.
Helena André vem de Bruxelas, onde foi a representante portuguesa na Confederação Europeia dos Sindicatos. Com uma inegável experiência política, exerceu diversos cargos directivos na Federação socialista do Benelux e, mais recentemente, foi co-redactora da moção de estratégia que José Sócrates apresentou, no último congresso. A sua grande experiência reside, no entanto, na área sindical e, por essa razão, a sua escolha agradou às estruturas sindicais. A UGT foi mais entusiástica na reacção; a CGTP, mais contida, deu-lhe, para já, o benefício da dúvida.
Para a Agricultura foi escolhido António Serrano, um homem que vai ter vida difícil. Para já, tem o dossier leiteiro para resolver. Os preços estão em queda livre e os agricultores defendem o regresso do regime de quotas, com uma quebra de produção que estanque a descida dos preços. Mas a Comissão Europeia cedeu ligeiramente, revogando a decisão de acabar com as quotas, em 2012.
O pacote financeiro de ajuda dará a Portugal menos de sete milhões de euros, valor que os produtores contestam, por ser muito reduzido. Alguns poderão receber aquilo que chamam de ninharia – 250 euros.
António Serrano terá de tomar decisões importantes, resistindo às pressões da CAP, que representa interesses muito particulares, em todo este processo. E as relações com a CAP, por tradição, costumam deitar ministros abaixo. Quando o titular cede aos interesses desta confederação, acaba por ser contestado pelos pequenos e médios agricultores e por largos sectores da sociedade. Quando se opõe a esses interesses, é a própria CAP que se encarrega da contestação. Em qualquer dos casos, há sempre instrumentalização da enorme capacidade de contestação dos agricultores, com cortes de estradas e tractores nas ruas.
Esta semana, os ministros escolhem os seus secretários de Estado e José Sócrates pediu a todos que concluíssem esse processo até à noite de quarta-feira, ou, o mais tardar, até quinta-feira, à hora de começo do Conselho de Ministros. Ainda sem data marcada, os secretários de Estado devem tomar posse no sábado. Haverá muitas reconduções e, obviamente, algumas novidades. O nome de António Braga, nas Comunidades, não é ainda certo. Muitos sectores socialistas defendem a sua substituição, argumentando que a prestação eleitoral do PS nos dois círculos da emigração ficou aquém das expectativas, o que quer dizer que o trabalho de Braga, como secretário de Estado, não terá sido o melhor. Alguns sectores próximos de Jaime Gama estarão a ter impor o nome de Paulo Pisco, possibilidade que parece não agradar a José Sócrates. Mas Luís Amado não costuma contrariar os desejos do presidente da Assembleia da República.
Este não é o único problema que Luís Amado tem para resolver. O secretário de Estado da Cooperação, João Gomes Cravinho, tem sido muito contestado e as suas relações com o ministro têm-se degradado. No ministério diz-se, à boca cheia, que ele não tem estatura para substituir o ministro nas suas ausências, uma constatação já feita pelo próprio Luís Amado. Apesar da excessiva discrição com que tem exercido a sua função, a secretária de Estado dos Assuntos Europeus pode permanecer, porque tem o apreço de muita gente no Ministério.
Dada como certa é a saída de todos os secretários de Estado do Ministério da Educação. Isabel Alçada, a nova ministra, não quer "herdar" gente da equipa anterior, que está muito desgastada com a luta contra os professores. Pelo contrário, António Mendonça pode ficar com Paulo Campos, um secretário de Estado que tem acompanhado os dossiers das grandes obras. Mas, em contrapartida, não tem vontade de conservar Ana Paula Vitorino, um mulher muito ligado ao aparelho, circunstância que assusta sempre os independentes.
Sérgio Ferreira Borges*
analista político
(O autor assina a crónica política "Avenida da Liberdade", semanalmente, no CONTACTO)
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