O historiador Gaspar Martins Pereira disse esperar que as comemorações do centenário da República (5 de Outubro de 1910) sejam "uma oportunidade" para lançar novas investigações sobre este período da história portuguesa que "tem ainda muitos aspectos mal conhecidos".
A um ano do centenário da instauração da Primeira República, este investigador da Faculdade de Letras da Universidade do Porto sublinhou a necessidade de aproveitar a atenção que será dada ao tema para incentivar em particular o estudo deste período no Porto, onde "está praticamente tudo por fazer".
As comemorações oficiais do centenário iniciam-se a 31 de Janeiro de 2010, em honra à revolta de 1891, e terminam em Agosto de 2011, quando a primeira Constituição republicana faz cem anos.
A poucos meses do arranque das comemorações, o professor universitário disse que a ausência de publicidade ou de anúncios sobre as actividades que justifiquem debate na sociedade permitem que se pense que "ou tudo está a ser preparado na sombra ou em cima do joelho".
Gaspar Martins Pereira sublinhou que há vários representantes da comunidade científica a colaborar com as comemorações, tendo ele próprio sido convidado, mas acrescentou que "seis meses para efectuar um trabalho científico é um prazo manifestamente curto".
"Em 1991 comemorámos o 31 de Janeiro com um congresso internacional intitulado 'Porto de fim de século'. Começámos com ano e meio de antecedência e tentámos que estivesse toda a gente com investigação feita nessa área", recordou.
"Uma investigação histórica exige tempo e reflexão", acrescentou, defendendo que, independentemente do seu programa oficial, as comemorações devem ser usadas como alavanca para a promoção de um verdadeiro programa de abordagem histórica da Primeira República.
"Nenhumas comemorações se esgotam nelas próprias. O tempo de investigação é muito diferente do tempo da comemoração. Espero que o centenário resulte num incentivo aos jovens investigadores para se virarem para este período histórico ainda tão pouco estudado em Portugal", afirmou.
Outro "erro inicial" que este especialista em História Contemporânea encontra no que conhece das comemorações foi uma "centralização inicial de toda a organização em Lisboa", apesar de ter "havido algum envolvimento marginal de universidades de outros pontos do país, nomeadamente do Porto".
"Quando se tentou descentralizar, já foi demasiado tarde, pelo menos em relação à investigação sobre o Porto", acrescentou, sublinhando que "há pontos e importantes da história da República no Porto que têm de ser descobertos".
Gaspar Martins Pereira recordou que, nos seus primeiros anos, a Primeira República foi "profundamente defensora da descentralização e da regionalização, coisa que o republicanismo lisboeta abandonou rapidamente".
Apesar de considerar que "as coisas podiam estar melhores", o historiador garantiu "manter a esperança de que se ultrapassem as incongruências do próprio sistema, em que o Estado garante, através da Comissão do Centenário, querer promover a investigação deste período histórico mas a Fundação para a Ciência e Tecnologia não aprova candidaturas entregues nesse sentido".
"Valia a pena aproveitar a oportunidade para preencher esta lacuna na historiografia portuguesa. E para tal é necessário levar a cabo investigações de fundo, atribuindo bolsas a jovens investigadores para que elaborem os seus estudos nesta área", disse.
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