Táctica comercial ou genuína manifestação de protesto, a ameaça da Google de sair da China tocou num ponto muito sensível da politica chinesa, com consequências ainda imprevisíveis para o futuro da Internet no pais mais populoso do mundo.
“Isto é muito mau para a imagem internacional da China porque evidencia o controlo do governo sobre a Internet”, disse um diplomata ocidental acerca da atitude assumida pela Google após os alegados ciber-ataques chineses contra activistas de direitos humanos.
O “controlo” já existia em 2006, quando a Google lançou um site em chinês e aceitou filtrar os resultados das suas pesquisas segundo os critérios das autoridades, mas a situação mudou radicalmente na terça-feira passada.
Naquele dia, um vice-presidente da empresa, David Drummond, anunciou que a Google e pelo menos vinte outras firmas foram alvos de “sofisticados ciber-ataques”, numa aparente tentativa de penetrar nas contas de email de activistas espalhados pelo mundo.
“Estes ataques e a vigilância que eles evidenciam, conjugados com as tentativas registadas no ultimo ano para limitar ainda mais a liberdade de expressão na Web, levaram-nos a concluir que devemos rever a viabilidade das nossas operações comerciais na China”, escreveu David Drummond no blogue oficial da empresa.
Em resposta, o governo chinês reafirmou a sua oposição a “todo o tipo de ciber-ataques” e sem comentar as alegações de censura, declarou que “todas as empresas, incluindo a Google, têm de respeitar as leis em vigor na China”.
“O governo chinês administra a interne segundo a lei e temos clausulas explicitas sobre que informação e conteúdos podem ser divulgados na Internet”, disse a porta-voz do ministério chinês dos Negócios estrangeiros, Jiang Yu.
Mais de 15.000 sites pornográficos, a maioria dos quais acessíveis através de telefones portáteis, foram encerrados em 2009, mas a lista de conteúdos considerados “perniciosos” não se limita aquele persistente “demónio social”.
Alguns dos sites mais populares nos países ocidentais, entre os quais o Youtube e o Facebook, estão bloqueados na China.
Quaisquer pesquisas sobre os chamados “3 T” (Tiananmen, Tibete e Taiwan) são também minuciosamente filtradas.
A Google – “Gu Ge”, em chines – detém apenas 31,1 por cento do mercado local – o maior do mundo, com quase 400 milhões de internautas – mas já se tornou um nome familiar na China.
Assim que foi anunciada a sua eventual saída do país, várias pessoas depositaram velas e ramos de flores à entrada da sede da Google-China, em Pequim,
“Se o país mais populoso do planeta não conseguir proporcionar uma base para o maior motor de busca do mundo, isso implicará um retrocesso para a China e uma grave perda para a cultura da Net na China”, disse um jornal oficial em editorial.
Um professor chinês de comunicação sustenta, contudo, que “a Google está apenas a jogar ao gato e ao rato, tentando tirar proveito da cólera e decepção dos internautas”.
Segundo esta visão, a ameaça da Google será também um sinal de frustração pela resistência do seu grande concorrente chinês, a Baidu, que detém 63,9 por cento do mercado local.
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