O Presidente da República, Cavaco Silva, abriu hoje no Porto as comemorações dos 100 anos da implantação da República apelando a "um novo espírito de cidadania" inspirado nos ideais dos primeiros republicanos.
"As comemorações do Centenário da República poderão ser a semente de um novo espírito de cidadania", afirmou Cavaco Silva na cerimónia solene de abertura das comemorações, que decorreu debaixo de chuva na Praça Humberto Delgado e Avenida dos Aliados.
Para o chefe do Estado, o mais de ano e meio de comemorações constitui a "oportunidade ideal" para renovar os valores republicanos, como "o amor à pátria e a ética na vida política".
Cavaco Silva desejou que seja possível "incutir nos portugueses do século XXI o mesmo espírito do 31 de Janeiro" de 1891, data da primeira tentativa fracassada de implantação da república em Portugal.
O Presidente terminou o seu discurso, em que citou Miguel Torga, João Chagas, João de Deus e Guerra Junqueiro, declarando abertas as comemorações "em nome dessa esperança coletiva que se chama Portugal".
O primeiro ministro, José Sócrates, definiu as comemorações do centenário da República como "um momento não de nostalgia, mas de celebração".
"A implantação da República foi muito mais do que uma rutura constitucional. Foi um momento profundamente reformista", afirmou José Sócrates.
O chefe do Governo salientou que a revolva de 31 de Janeiro "não aconteceu por acaso no Porto", cidade que, em sua opinião, "continua a ser um grande centro de liberdade".
José Sócrates apelou aos portugueses para se unirem "numa comunidade com projeto de futuro", lembrando que, com a democracia, são "um povo que em liberdade escolhe o seu futuro".
O presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, Artur Santos Silva, recordou o papel do Porto em momentos importantes para a implantação do liberalismo e do republicanismo em Portugal, nomeadamente na revolução de 1820, Cerco do Porto, 31 de Janeiro de 1891 e criação do Movimento de Unidade Democrática (MUD), logo a seguir à II Guerra Mundial.
Artur Santos Silva lembrou também o papel do seu bisavô (fundador do jornal A República Portuguesa), avô (presidente da Câmara do Porto e ministro da primeira República) e pai (candidato a deputado pela oposição democrática) na luta pelos ideais democráticos e republicanos.
Artur Santos Silva manifestou esperança de ver as "mais de 500 iniciativas" programadas para estas comemorações como momentos de renovação, regeneração, reflexão e procura de soluções para uma República "mais moderna, mais eficiente e mais democrática".
"Impõe-se questionar a qualidade da nossa vida democrática", realçou, recordando que os valores republicanos incluíam o "patriotismo, exaltação do sentido de cidadania e o desapego dos bens materiais".
A cerimónia contou também com a presença de, entre outros, os ex-presidentes da república Mário Soares e Jorge Sampaio, o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, vários ministros e autoridades judiciais e militares.
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