A Ferrostaal, empresa alemã que negociou a venda de dois submarinos a Portugal, exonerou hoje o presidente executivo, Matthias Mitscherlich, indiciado por corrupção num negócio idêntico com a Grécia, em 2002.
A demissão de Mitscherlich, de 61 anos, com efeitos imediatos, foi anunciada segunda-feira pela Ferrostaal após uma reunião do conselho de administração realizada hoje.
A decisão “era necessária para que haja um novo começo na empresa”, afirma-se num comunicado de imprensa da Ferrostaal.
Mitscherlich tinha contrato com o consórcio por mais quatro anos.
Segundo a imprensa alemã, o Ministério Público de Munique exigiu uma coima de 240 milhões de Euros à Ferrostaal, depois de ter detetado pagamentos de “luvas” a título de serviços de consultoria em vários negócios.
Um ex-membro do conselho de administração, Klaus Lesker, que era um dos homens de confiança de Mitscherlich e ainda seu colaborador, foi detido na sequência das investigações e o próprio presidente do conselho executivo indiciado por corrupção.
O cônsul honorário de Portugal em Munique, Juergen Adolff, foi também indiciado por suspeita de tráfico de influências e corrupção.
Juergen Adolff, entretanto suspenso de funções pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros português, terá recebido 1,6 milhões de euros da Ferrostaal para ajudar a vender os dois submarinos a Portugal, revelou o semanário Der Spiegel.
Em declarações à Lusa, no início de abril, o diplomata negou as acusações, garantindo não ter conhecimento de “quaisquer pagamentos ilícitos” e considerando “infames” as acusações de que é alvo.
Mitscherlich não terá apoiado inteiramente as diligências do Ministério Público para apurar a verdade, refere a imprensa alemã.
Interpelado pela Lusa, o gabinte de imprensa do Ministério Público de Munique escusou-se a prestar declarações, invocando que as investigações ainda estão a decorrer.
A Ferrostaal tem 4400 funcionários, um volume de vendas anual de 1,6 mil milhões de euros e actividades em vários continentes.
A empresa pertencia inteiramente ao grupo MAN, mas no ano passado um fundo petrolífero estatal de Abu Dhabi adquiriu 70 por cento das acções, tornando-se maioritário.
A MAN, envolvida no ano passado num caso de corrupção e obrigada a pagar uma coima de mais de 150 milhões de euros à Justiça germânica, manteve apenas uma quota de 30 por cento, que tem procurado vender também.
Após a reunião de hoje do conselho de administração, a Ferrostaal revelou que será criado um novo departamento, o “Compliance & Administration”, para promover maior transparência nos negócios.
A nova secção será dirigida por Andreas Pohlmann, que já desempenhou tarefas idênticas na Siemens, gigante alemão da indústria elétrica e eletrónica que esteve também a braços com um grave problema de corrupção.
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