quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Portugal deverá ter mais dificuldades em financiar-se este semestre, dizem analistas

As taxas de juro que Portugal paga quando emite dívida pública, que se têm mantido baixas graças à intervenção do Banco Central Europeu (BCE), podem voltar a agravar-se no segundo semestre, disseram hoje os analistas contactados pela agência Lusa.

“Nas maturidades mais longas já se nota que o mercado começa a considerar que, num enquadramento a médio prazo de aproximação da taxa de inflação aos dois por cento, o BCE possa retirar os estímulos artificias e isto se note nas taxas de financiamento solicitadas para colocação de dívida soberana”, disse Bruno Costa, operador de mercado da Go Bulling, a corretora do Banco Carregosa.

Para Ricardo Marques, economista da IMF-Informação de Mercados Financeiros, a ‘rentrée’ no segundo semestre será fundamental para avaliar a reação dos mercados.

“Estamos em agosto, não sabemos como é que os mercados vão regressar em setembro e outubro, como é vão olhar para execuções orçamentais, se vai continuar a haver desconfiança”, afirmou o analista, espelhando as dúvidas dos investidores.

Depois de os juros da dívida soberana se terem começado a agravar logo no primeiro trimestre devido às tensões que levaram à escalada no risco de incumprimento dos países periféricos da zona euro e ao aumento dos custos de financiamento (juros de dívida), a 5 de Maio, a taxa de juro para colocação de dívida pública portuguesa atingiu quase 3% num leilão a seis meses.

No mesmo mês, foi conhecido que o BCE decidiu comprar dívida pública no mercado secundário com o objetivo de estabilizar os mercados financeiros.

“A intervenção do BCE ajudou a baixar as taxas, que agora estão a um nível ligeiramente ‘artificial’. Se o BCE não tivesse comprado dívida, eventualmente as taxas estariam acima ou idênticas aos valores máximos registados este ano”, explicou Bruno Costa.

Hoje, o leilão de dívida a 12 meses mostrou “uma nova alta dos custos para o Estado português”, acrescentou, referindo-se à taxa de juro média de 2,727%, mais de 30 pontos base acima do leilão com a mesma maturidade de 4 de agosto, e acima do juro de 1,83% conseguido por Espanha num leilão semelhante esta terça feira.

Já no leilão hoje realizado com maturidade a três meses, o juro de 0,994 por cento ficou abaixo do de 1,861 por cento conseguido a 02 de junho, o que leva o economista Ricardo Marques a considerar que esta operação foi “bastante bem sucedida”.

“Isto mostra que a tendência de queda não é constante”, concluiu Bruno Costa.

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