quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

"Daqui a dez anos já não haverá Arcelor no Luxemburgo", diz um dos trabalhadores portugueses da empresa

A Arcelor anunciou que vai despedir 262 dos 800 trabalhadores das unidades de Rodange e Schifflange. O CONTACTO falou com um trabalhador português da empresa que vê um futuro nada risonho.

"Daqui a dez anos, no máximo, já não haverá Arcelor no Luxemburgo". É a conclusão a que chega um trabalhador português da ArcelorMittal, quando o CONTACTO lhe pede para dizer como tem sido o ambiente vivido pelos trabalhadores da empresa desde que esta anunciou os despedimentos. "É um clima de medo", garante o português, que pediu para guardar o anonimato.

"Vão despedir sobretudo electricistas, mecânicos, técnicos térmicos, esse tipo de postos", revela o português que diz não temer, por enquanto, pelo seu lugar, devido à sua "experiência" e "especificidade técnica" do seu trabalho.

"Para já, querem despedir um terço da malta em Rodange e Schifflange. O [Lakshmi] Mittal está só à espera de um pretexto. Como Rodange e Schifflange lhe custam caro, vão esses primeiro". A decisão final cai em Março.

"Mas não acredito que fique por aí", aventa o português. E vai mais longe. "O objectivo final é fechar todas as unidades no Grão-Ducado. Até a sede histórica da Arbed [ antigo nome da siderúrgica luxemburguesa, antes de ser comprada por Mittal, n.d.R.] , porque a sede da Mittal está na Holanda. Ele não precisa de duas sedes europeias. Talvez, por enquanto, guarde a unidade de Differdange porque é ainda onde dispõe de muito terreno e porque é uma das únicas unidades de produção das placas 'jumbo', uma das nossas grandes saídas para o mercado norte-americano".

Mas o futuro é mais que previsível para o português. "Quando fechou Florange [em França], vieram para o Luxemburgo os trabalhadores de lá. Mas aqui a mão-de-obra é muito cara e é só uma questão de tempo até o Mittal deslocalizar tudo para o estrangeiro", analisa. "Muitos dos meus colegas já andam à procura de trabalho, mas eu penso que é uma atitude precipitada."

Porquê?, pergunta o CONTACTO. "Porque o Mittal tem uma convenção com o Estado luxemburguês, se vai despedir pessoal tem que apresentar argumentos. E quando isso finalmente acontecer e os últimos forem despedidos, só vão sair com indemnizações. Ele não pode fazer o que quer aqui", assegura o trabalhador.

"Se ele me oferecer emprego com o mesmo salário na Indonésia ou no Brasil, eu vou", garante. Caso contrário diz que pensa voltar para Portugal. Na mesma situação estão meia centena de colegas portugueses.

A ArcelorMittal emprega actualmente cerca de cinco mil pessoas no Grão-Ducado.

Recorde-se que as centrais sindicais LCGB e OGB-L manifestaram recentemente preocupação com os postos de trabalho que vão ser suprimidos e apresentaram um plano que visa economizar 38 milhões de euros, dos quais 8,8 milhões através do despedimento de 262 trabalhadores a tempo inteiro.

José Luís Correia
Foto: Tessy Hansen

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