A família real do Qatar tem aumentado a olhos vistos a sua posição financeira no Grão-Ducado, e as últimas aquisições são nada mais nada menos que o Dexia, a primeira vítima da crise bancária de dívida na Europa, e a KBL, subsidiária do grupo belga KBC.
Como entender a aproximação entre os dois países?
O ministro das Finanças, Luc Frieden, tem-se desdobrado para a captação de investimento financeiro no Grã-Ducado pelas paragens do Médio Oriente. Em Outubro de 2008 passou pelo Qatar, bem como em Janeiro do ano passado. Ainda no início deste ano, acompanhado pelo herdeiro do Grão-Duque, Guillaume, se reuniu com o chefe de Estado do Qatar, Sheikh Hamad Bin Khalifa Al-Thani.
Fruto desses encontros ou do acaso, o fundo soberano do Qatar manifesta interesse no mercado financeiro luxemburguês, mas, o Luxemburgo também tem interesses em reforçar as finanças islâmicas,
Foi confirmada na semana passada que a família real do Qatar adiantava 900 milhões de euros para resgatar o Dexia BIL e esta semana chegou a vez de comprar a KBL, subsidiária do grupo belga KBC, num total de 1,050 mil milhões de euros.
Do lado luxemburguês, sabe-se que há quarenta fundos islâmicos pesando aproximadamente 580 milhões de dólares, domiciliados no Grão-Ducado, e não é de estranhar que a Universidade do Luxemburgo tenha lançado em Janeiro deste ano uma formação para executivos em finanças islâmicas.
O Banco Central do Luxemburgo é a única instituição monetária europeia membro fundador do Conselho de Serviços Financeiros Islâmicos, um corpo que reúne reguladores e supervisores financeiros na área das finanças islâmicas.
Luxemburgo salva as suas jóias e estreita os laços com o emirado, e Qatar diversifica a sua economia, que é focada sobretudo no petróleo e gás. Ambos saem a ganhar.
Esta segunda-feira soube-se que o mesmo grupo de investidores associados à família real do Qatar que vai adquirir o Dexia quer comprar também a KBL.
A aquisição da KBL pelo Qatar será através da Precision Capital, holding luxemburguesa que representa os interesses do fundo soberano do Qatar, anunciou o grupo belga esta segunda-feira em comunicado.
"O Grupo KBC chegou a acordo com a Capital Precision sobre a venda do seu especialista europeu em private banking - KBL - para um total de 1,050 mil milhões de euros, dos quais 50 milhões de euros dependem dos resultados da KBL", diz em comunicado a KBC.
A KBL é um grupo bancário privado europeu que opera em nove países europeus: Bélgica, França, Alemanha, Luxemburgo, Mónaco, Holanda, Espanha, Suíça e Reino Unido.
Recorde-se que a primeira tentativa de resgate foi feita em Março deste ano pela indiana Hinduja, que oferecia 1,35 milhões de euros, tendo a transacção fracassado devido à oposição da entidade reguladora do sector financeiro luxemburguês.
O banco luxemburguês detém também uma participação de 51,13 % na administração de fundos de investimento EFA, que gere um total de 87,5 mil milhões de euros.
O acordo com Qatar envolve a venda de todos os interesses da KBL dentro do Grupo KBC e inclui todas as subsidiárias do banco privado, bem como as actividades de depósito de títulos e seguro de vida da KBL, lê-se ainda no comunicado.
A transacção "permite à KBC libertar uma grande quantidade de capital, reduzir o seu perfil de risco e continuar o seu foco como especialista em bancassurance nos mercados belga, da Europa Central e Oriental", disse Jan Vanhevel, responsável do KBC. O acordo ainda precisa ser aprovado pelas autoridades de supervisão e deverá ser concluído no primeiro trimestre de 2012.
Quanto ao grupo Dexia, está a caminho do desmantelamento provocado pela incapacidade de se financiar nos mercados, devido à forte exposição à dívida soberana de países europeus em dificuldades.
No Luxemburgo, o ministro das Finanças, Luc Frieden, já garantiu para o Dexia BIL, ramificação do banco franco-belga, um resgate de 900 milhões de euros, pelo fundo soberano do Qatar.
Os depósitos dos clientes bancários vão ser garantidos e a operação não deve trazer encargos aos contribuintes, garantiu na semana passada Luc Frieden. O conselho de administração da Dexia mandatou, esta segunda-feira, o administrador delegado Pierre Mariani para iniciar negociações exclusivas com a Caixa de Depósitos e o Banco Postal, com vista à retoma das suas actividades de financiamento em França.
O anúncio surge depois de o governo belga ter confirmado o investimento de quatro mil milhões de euros para assumir o controlo da filial belga do banco Dexia, algo que provocou a consequente demissão do presidente da administração do grupo Dexia, Jean-Luc Dehaene, esta segunda.
A Caixa de Depósitos, instituição francesa com cerca de 200 anos de história, serve de veículo ao Estado francês para canalizar investimento estratégico em projectos de interesse público, enquanto o Banco Postal, o braço financeiro dos correios, é um banco de retalho com uma forte quota de mercado.
Cerca de 600 funcionários da holding Dexia SA, da estrutura central do banco franco-belga, cujo desmantelamento está em curso, deverão receber uma proposta de transferência para uma das filiais, indicou esta segunda-feira o conselho de administração do banco em comunicado.
Por seu turno, Luc Frieden garantiu que no Luxemburgo os postos de trabalho não serão afectados.
Garantias dadas depois do investimento do novo parceiro, Qatar, que segundo o FMI, vai ser o país mais rico do mundo este ano, graças a um crescimento económico de 20 %, e com um PIB de 88.221 dólares por habitante. Um desempenho que lhe permite ultrapassar o Luxemburgo e a Noruega, que actualmente encabeçam a lista.
HB
Fotos: Gerry Huberty/Guy Jallay
Sem comentários:
Enviar um comentário