quarta-feira, 21 de março de 2012

Miguel Portas no Festival das Migrações: "Empréstimo da troika é impossível de pagar, excepto se houver crescimento"

Foto: M. Dias
O empréstimo da troika a Portugal "é impossível de pagar, excepto se houver crescimento da economia". As palavras são de Miguel Portas, eurodeputado do Bloco de Esquerda que foi um dos oradores da conferência-debate intitulada "Os Portugueses e os Espanhóis na armadilha da austeridade". O eurodeputado português esteve a convite do Dei Lénk no Festival das Migrações, que decorreu na Luxexpo, no fim-de-semana.

Miguel Portas acredita que "todo o modelo [n.d.R.: de ajuda financeira aos países em dificuldade] está condenado ao fracasso" e explica porquê: "Este bail out vai aumentar, e não diminuir, a dívida pública portuguesa". Para o eurodeputado bloquista, as medidas adoptadas pelo Governo português “têm feito aumentar o défice nos últimos dois anos". "Cortámos nos salários e nas pensões. Todas estas medidas foram implementadas para pagar os juros do empréstimo", resume Portas.

Aquilo a que Miguel Portas apelida de "a brutalidade da dívida pública" portuguesa reflecte-se nos números que o eurodeputado apresentou. O eurodeputado recorda que Portugal está a pagar 34 milhões de euros de juros sobre a primeira tranche do empréstimo da troika, no total de 77,9 milhões de euros. Mas Portas alerta que "os anos mais terríveis ainda estão para chegar. Em 2016, Portugal deve pagar 20 mil milhões de euros e isto se as coisas correrem bem", exclama o eurodeputado.

"Surpresa das surpresas, e analisando os dados oficiais, a dívida pública alemã é irmã da dívida pública portuguesa", diz Miguel Portas, para quem a entrada do euro em circulação ajudou países como a Alemanha e fez o contrário por países como Portugal: "O euro é demasiado caro para países da União Europeia como Portugal e Espanha".

Miguel Portas atacou o Governo de Passos Coelho. Para o eurodeputado, "o primeiro-ministro desistiu do próprio país". "Uma coisa incrível, o nosso primeiro-ministro disse aos jovens do país para imigrarem", disse o eurodeputado, referindo-se em seguida à nova vaga de imigração: "Nos últimos seis, oito meses, milhares de portugueses chegaram ao Luxemburgo, a França e a outros países, tal como aconteceu com os imigrantes nos anos 60".

Miguel Portas não hesita ao enumerar as medidas que entende serem necessárias para reverter a crise financeira em Portugal: "Para haver crescimento tem que haver investimento público. Há que defender os salários dos portugueses, sem eles não há poder de compra e, por último, o Banco Central Europeu (BCE) tem de ser capaz de emprestar aos estados da União Europeia da mesma forma que empresta aos bancos privados". "O BCE emprestou 530 mil milhões de euros aos bancos", lembra Portas. "Podemos dizer tudo sobre a Europa, menos que não tem dinheiro", rematou com alguma ironia o eurodeputado português.

Miguel Portas participou no debate a convite do partido luxemburguês Dei Lénk, onde esteve também Maite Mola, do p artido espanhol Izquierda Unida.

Texto: Irina Ferreira

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