segunda-feira, 11 de julho de 2011

Exposição no Luxemburgo até 30 de Julho: Denis Robert de volta ao local do crime

O crime não foi o seu e, verdade seja escrita, nenhum tribunal deu alguma vez como provadas as alegações de Robert no chamado caso Clearstream. Para quem não se recorda, Robert, um jornalista de investigação que trabalhou durante doze anos para o jornal francês Libération, acusou a câmara de compensação (Clearstream) com sede no Luxemburgo de actividades financeiras ilegais, incluindo coisas pequenas como lavagem de dinheiro e evasão fiscal. A outra verdade é que o Tribunal de Cassação Francês reconheceu, em Fevereiro de 2011, a validade da abordagem de Robert por se tratar de um assunto de interesse público, tendo ilibado este dos mais de 60 processos judiciais que lhe foram movidos depois pela Clearstream, bem como por outras entidades bancárias.

Mas foram as telas mais do que os livros ou os documentários de investigação que trouxeram de volta Denis Robert ao Luxemburgo, após dez anos de pesadelo judicial. A exposição, com o sugestivo nome de "Um tipo com olho de artista será sempre mais forte do que uma multinacional" (uma referência, mais uma vez, à Clearstream?) está patente na galeria Michel Miltgen, no n°32, rue Beaumont, na cidade do Luxemburgo, até 30 Julho.

Os seus quadros tão-pouco fogem ao tema central de todos os seus livros e documentários. Num deles pode se ler: "o segredo bancário é um direito do homem rico", enquanto noutro: "eu não direi mais mal da Clearstream, eu não direi mais mal da Clearstream, eu não direi mais..." As referências à multinacional e ao sector financeiro são renovadas a cada olhar. Fixação ou cruzada pela verdade, o juízo é livre. Segundo Denis Robert "a única condenação em tribunal foi a de um tribunal luxemburguês e é por isso que os meus livros, interditos de publicação durante 10 anos, não serão aqui vendidos. No entanto, já foram republicados, estando de novo à venda em França e noutros países da Europa depois da decisão do Tribunal Supremo francês em Fevereiro passado."

Expor no Luxemburgo é a suprema ironia da história e também, paradoxalmente, é sobretudo o sector financeiro que adquire as suas obras. Um dia, talvez exponha na Clearstream...

Francisco d’Oliveira
Foto: Manuel Dias

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