quarta-feira, 23 de maio de 2012

"Estão a pôr a crise nas costas dos mais fracos", denuncia ministro do Trabalho

Foto: GGG
O ministro do Trabalho do Luxemburgo não poupou críticas às medidas de austeridade que estão a ser aplicadas em Portugal, durante o 3o Encontro de Sindicalistas e Dirigentes Associativos lusófonos, em Remich, no fim-de-semana.

Nicolas Schmit defendeu que Portugal e o Luxemburgo devem partilhar a responsabilidade do combate à exclusão e ao desemprego dos jovens portugueses no Luxemburgo, nomeadamente promovendo a sua qualificação.

"É um problema fundamental do nosso Governo e do de Portugal, é uma responsabilidade que devemos partilhar, o combate contra a exclusão e o desemprego dos jovens portugueses”, disse Schmit no encontro promovido pela CGTP e pela sua congénere luxemburguesa OGB-L.

O governante luxemburguês assegurou que o seu país não olha para Portugal como um simples observador, pois sente-se muito próximo de Portugal devido à grande comunidade portuguesa radicada no Luxemburgo, cujos familiares e amigos atravessam graves problemas, e "às centenas de pessoas que continuam a fugir do desemprego em Portugal".

O ministro considerou que a emigração "como um acto de desespero” não pode ser incentivada, pois a livre circulação deve ser feita com condições e não como forma de transportar o desemprego e a precariedade de um lugar da Europa para outro".

"Isso não é solução e é indecente”, disse, considerando terrível ver chegar famílias e em particular jovens, sem as devidas qualificações, que vão cair no desemprego.
O governante criticou a insistência da União Europeia nas políticas de austeridade que baixam os salários e a protecção social, destruindo o modelo social europeu e agravando a recessão económica.

"Estão a pôr esta crise nas costas dos mais fracos", disse, acrescentando que têm sido cometidos "erros colossais ao nível da gestão”, nomeadamente ao nível da governação financeira e económica. O ministro defendeu que só com políticas de crescimento económico e justiça social será possível "sair do marasmo”.

Remich recebeu novamente no fim-de-semana passado o encontro de sindicalistas, conselheiros e dirigentes associativos europeus, este ano alargado às diferentes comunidades lusófonas na Europa. Esta foi a terceira edição do encontro organizado pela central sindical portuguesa CGTP-IN e a sua congénere luxemburguesa, OGB-L, e contou ainda com a participação das centrais sindicais das Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), nomeadamente de Angola e Cabo Verde.

Igualmente presentes estiveram o deputado luso-descendente do Parlamento luxemburguês, Félix Braz, e os deputados eleitos pelo círculo da emigração, Paulo Pisco (PS) e Carlos Gonçalves (PSD).

Paulo Pisco chamou a atenção para o facto de o "aumento dos fluxos migratórios” estar a ser acompanhado por uma inadmissível "diminuição dos recursos” que são disponibilizados às comunidades. Pisco destacou a cobrança de uma propina pelo ensino do Português no estrangeiro, à qual se opõe veementemente. Face ao aumento da emigração para números só equiparáveis aos dos anos 60 e 70, o deputado socialista lançou ainda um apelo a todos os "conselheiros, representantes da sociedade civil, sindicalistas e dirigentes associativos” para que contribuam para um "reforço institucional entre o Luxemburgo e Portugal”.

O deputado do PSD Carlos Gonçalves, por seu turno, reiterou a importância das comunidades emigrantes para o país e insistiu também na "importância do sindicalismo” e da "participação civil e política” na articulação dos mecanismos de resposta aos problemas laborais e sociais.

No encontro, em que participou ainda Eduardo Dias, sindicalista da OGB-L e conselheiro das Comunidades no Luxemburgo, foi aprovada uma resolução de 28 pontos que deverá ser remetida às autoridades portuguesas e europeias. No documento, os sindicalistas presentes no Luxemburgo reivindicam um conjunto de 28 medidas, nomeadamente "a defesa intransigente dos interesses" das comunidades portuguesas por parte do Estado português. A expansão do ensino do português e a adequação da rede consular às crescentes necessidades das comunidades são outras das reivindicações.

Texto: Gonçalo Guimarães Gomes (com Lusa)

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