sexta-feira, 21 de agosto de 2009

ÚLTIMA HORA/Portugal: Derrocada de rochedo em Albufeira faz um morto, dois feridos graves, dois soterrados e dois desaparecidos


Notícia em actualização/última actualização às 18h05


A derrocada de uma arriba (rochedo à beira-mar) hoje, cerca das 12h (+ 1h no Luxemburgo), na praia Maria Luísa em Albufeira, no Algarve, provocou um morto, um homem de 60 anos, além de uma mulher de 38 anos que está em estado crítico e de um homem de 35 anos que ficou também ferido.

Encontram-se ainda desaparecidas duas pessoas e duas estão soterradas: um homem e uma criança que não apresentam sinais de vida, segundo fonte do INEM.

Outras sete pessoas estão a ser assistidas no Hospital de Faro e no Hospital do Barlavento em Portimão, para onde as vítimas foram transportadas.

A grande preocupação das equipas de socorro agora é a subida da maré, cuja preia-mar começou às 16h (17h no Luxemburgo) e pode atrapalhar os trabalhos, disse o comandante Marques Pereira.

Um homem e uma criança ainda soterrados podem estar mortos

As autoridades continuam a proceder a buscas para encontrar o homem e a criança que se encontram soterradas junto à arriba que desabou, disse à Lusa o comandante do porto de Faro.

O resto do rochedo, adiantou o comandante, apresentava alguma perigosidade de derrocada pelo que foi desfeita, com máquinas rectroescavadoras, e agora prosseguem as buscas para encontrar mais duas pessoas no terreno onde ocorreu o desababamento.

"Há indícios que as duas pessoas estejam mortas", adiantou o comandante.

"Estão no terreno elementos da protecção civil, da Autoridade Marítima, dos Bombeiros e do INEM" a dar apoio aos feridos e a participar nas buscas e restantes trabalhos.

As autoridades estão ainda em busca de duas pessoas que estariam naquela praia no momento do ocorrido e que se encontram ainda desaparecidas, não se sabendo se se encontram sob os escombros da arriba que desabou ou noutro local.


Testemunhas oculares falam em grande estrondo e nuvem de poeira

Um barulho ensurdecedor, uma nuvem de poeira e gritos pela praia foi o cenário descrito por Joaquim Ribeiro, um dos primeiros veraneantes a socorrer hoje as vítimas da derrocada na praia Maria Luísa em Albufeira.

"Estava aqui. Ouviu-se um barulho ensurdecedor, viu-se uma nuvem de poeira e as pessoas começaram a gritar", disse à Lusa Joaquim Ribeiro.

Afirmando que estavam largas centenas de pessoas na praia o turista foi um dos primeiros a ajudar o nadador-salvador no socorro às vítimas.

"Demos assistência com o banheiro, levámos espreguiçadeiras para socorrer os feridos", relatou afirmando que na altura viram duas pessoas atingidas pela falésia.

"Havia também pessoas soterradas", acrescentou sem saber precisar quantas serão.

Também Joaquina Martins estava na praia quando se deu a derrocada tendo pensado na altura que se tratava de um avião a cair: "fez muito barulho, parecia que era um avião a despenhar-se", contou.

A testemunha frisou à Lusa a insegurança do local notando que "a falésia estava muito inclinada e parecia que podia ser perigoso".

Joaquina Martins disse que existia apenas uma placa "muito discreta" a alertar para o perigo.

Apurar responsabilidades

A arriba que hoje cedeu na praia Maria Luísa em Albufeira provocando um morto e dois feridos, para além de dois soterrados, já apresentava sinais de perigo de derrocada e encontrava-se sinalizada, disse fonte da Autoridade Marítima.

"Esta era das situações mais graves. O arenito da rocha era bastante frágil e havia um risco de derrocada a ponto de levar a Autoridade Marítima a colocar avisos", disse o comandante Marques Pereira no primeiro briefing aos jornalistas.

O comandante da capitania sublinhou que "era previsível" a queda da arriba e frisou que as pessoas devem salvaguardar-se de situações de risco, o que infelizmente não foi o caso".

Esta tarde as autoridades provocaram uma derrocada na falésia junto à zona do acidente, o que levantou a dúvida de se saber porque razão não foi feita operação igual na zona perigosa cuja rocha caiu esta manhã, para evitar acidentes.

Questionado sobre o assunto, o comandante do Porto de Faro explicou que a questão deve ser colocada à Administração da Região Hidráulica do Algarve (ARH).

Por sua vez, contactada pela Lusa, fonte da ARH remeteu quaisquer explicações para o Instituto da Água, cujo presidente, Orlando Borges, estava a caminho do local do acidente.

Quercus questiona: "É preciso saber quem e porquê autorizou" acesso à praia

O vice-presidente da Quercus defendeu hoje o lançamento de um inquérito para apurar "quem e porquê" autorizou o acesso dos banhistas à praia Maria Luísa, Albufeira, onde uma derrocada causou hoje pelo menos um morto.

Em declarações à Lusa, o responsável da associação ambientalista, Francisco Ferreira, afirmou que noutros casos de risco, nomedamente na Nazaré e na Figueirinha (Arrábida), optou-se pela interdição, e neste segundo caso foi mesmo feita uma intervenção urgente de reforço com recurso a betão e vigas de metal.

A praia Maria Luísa "estava identificada [como zona de perigo], mas se calhar não se percebeu que o risco era tão elevado (...) fez-se apenas um aviso às pessoas que penetram na área (...) é preciso saber quem tomou essa decisão e porquê", adiantou Ferreira.

O comandante Marques Pereira, da Autoridade Marítima, afirmou hoje que "era previsível" a queda da arriba e frisou que as pessoas devem salvaguardar-se de situações de risco, o que "infelizmente não foi o caso".

O comandante do Porto de Faro explicou que a questão deve ser colocada à Administração da Região Hidráulica do Algarve (ARH).

Por sua vez, contactada pela Lusa, fonte da ARH remeteu quaisquer explicações para o Instituto da Água, cujo presidente, Orlando Borges, estava a caminho do local do acidente.

O Plano de Ordenamento da Orla Costeira de Burgau-Vilamoura, datado de 27 de Abril de 1999, era Elisa Ferreira ministra do Ambiente, identifica a falésia da praia Maria Luísa como zona de risco.

A decisão de interdição, segundo Francisco Ferreira, da Quercus, é "difícil", e compete especificamente à Administração da Região Hidrográfica do Algarve, apesar de ser o Instituto da Água (INAG) a gerir o domínio público marítimo.

Carlos Teixeira, vice-presidente da Liga de Protecção da Natureza, sublinha que as entidades responsáveis "muitas vezes têm problemas de recursos para assegurar o cumprimento" e a fiscalização destas zonas.

"Confio nos nossos técnicos e cientistas responsáveis pela avaliação de risco. Temos óptimas pessoas a trabalhar. Não sei é se os institutos responsáveis integram esses estudos (...) Mas, se são tomadas decisões, tem de investir-se em segurança ", disse à Lusa.

"O risco avaliado poderia não representar um perigo imediato de desabamento, mas apenas o desprendimento de pedras". adianta, sublinhando não conhecer o caso específico da praia Maria Luísa

Apesar de os planos de ordenamento serem desenvolvimentos no sentido positivo, o "risco só tem vindo a aumentar", nomeadamente devido à construção excessiva junto às zonas costeiras, levando a que "este tipo de acidentes aconteça com alguma regularidade".

"Há decisões tomadas sobre projectos junto à costa que vão causar erosão a montante com mais intensidade", afirma.

Francisco Ferreira, da Quercus, sublinha que a observação da zona através da aplicação informática Google Earth permite verificar que existe construção e caminhos sobre a falésia, parte da qual hoje caiu.

Fotos: Lusa

Sem comentários:

Enviar um comentário